Tuesday, March 16, 2010

"Ruptura com o 'eduquês'", por Henrique Raposo

No Expresso de 6 de Março, a crónica de Henrique Raposo foi dedicada à educação. Aqui fica.

Paulo Rangel tem razão num ponto: a educação precisa de uma ruptura. Aliás, a polémica suscitada pelas ideias 'pedagógicas' de Rangel tem sido a parte mais interessante da campanha interna do PSD. Rangel, ao contrário de Passos Coelho, não tem medo de pisar o risco desenhado pela esquerda; não tem receio de romper o cerco do politicamente correcto. Por isso, este candidato a líder do PSD tem enfrentado, de forma desempoeirada, os dogmas do generalíssimo 'eduquês'. No fundo, Rangel tem defendido que o aluno não é o centro da escola. O centro da escola é, isso sim, o conhecimento que o aluno deve assimilar. Com uma previsibilidade pavloviana, os fiscais do antifascismo já soltaram os cães. Para estes profissionais da indignação, Rangel não passa de um defensor malévolo do 'antigamente'. O próprio Passos Coelho, sempre muito sensível às alergias da esquerda, também fez soar este alarme antifascista contra a 'escola' de Paulo Rangel.

Em Março de 2008, numa das primeiras crónicas aqui do Expresso, afirmei que a escola pública não ensina as crianças a desenvolver as capacidades básicas: ler e escrever. Isto porque o 'menino' é rei e senhor. O professor não pode repreender o 'menino', porque isso é fascismo travestido. E esta hiperprotecção do 'menino' acaba por ter um efeito ridículo, quase cómico: muitos alunos acabam o curso superior sem saberem escrever em condições. Ora, ainda hoje recebo e-mails de pessoas que me felicitam por "ter a coragem de dizer isto". Ao mesmo tempo, esta boa gente (quase sempre professores) diz-me que tem medo de falar deste assunto em público. Ou seja, em privado, e só em privado, as pessoas já dizem que os miúdos não aprendem nada na escola. No recato do seu e-mail, e só nesse recato, os portugueses consideram que 'ir à escola' é apenas um hábito social, que não contribui para o desenvolvimento de capacidades e de conhecimentos (são os pais, em casa, que ensinam as crianças). Mas, em público, toda a gente tem ainda medo de criticar esta farsa. Eu percebo: se afrontarem o 'eduquês', as pessoas são, de imediato, rotuladas de 'salazaristas'. Portanto, neste ambiente malsão, Rangel fez a ruptura necessária, porque trouxe para a superfície um debate subterrâneo.

Os pedagogos podem não apreciar as ideias de Rangel, mas o português normalíssimo sabe que este jovem político tem razão. O português ali do 3º direito vê, todos os dias, a escola primária a falhar na tarefa de ensinar o seu filho a escrever e a fazer cálculos matemáticos. O português do 5º esquerdo vê, todas as semanas, a escola secundária a não preparar a sua filha para a faculdade. Aliás, todos os portugueses vêem o ensino secundário a transformar-se, sob a complacência do poder político, numa linha de montagem de preguiça e de desonestidade intelectual. Há dias, descobri que os miúdos completam os trabalhos de casa com um mero copy/paste da Internet. E, pior ainda, descobri que os professores, quando recebem estes copy/paste, não podem chumbar os alunos prevaricadores. Perante esta farsa, só podemos dizer que Rangel tem toda a razão. A escola pública não está a formar cidadãos com capacidade para subir na vida. A escola pública está a formar digitadores de SMS destinados a permanecer na prisão do seu 'contexto sociofamiliar' (para usar uma expressão muito querida do 'eduquês').

Henrique Raposo

Friday, March 5, 2010

Plano Inclinado

Pedimos desculpa pela falta de actualização recente, uma falha que tentaremos começar a colmatar brevemente. Entretanto, aqui fica o Plano Inclinado da semana passada.