Monday, July 12, 2010

Continuação

Como tem sido difícil haver actualizações regulares deste blog, volto a escrever em http://demon-haunted-world.blogspot.com/, o meu blog anterior.

Passem por lá!

Tuesday, May 18, 2010

Telemóvel e Cancro Cerebral


O Expresso online de hoje faz referência a um estudo que será publicado no International Journal of Epidemiology sobre a relação entre o uso de telemóveis e o cancro cerebral. O resultado do estudo adivinha-se facilmente: inconclusivo. Na verdade, todos os estudos sobre este tema revelam-se inconclusivos, talvez porque não há nada a concluir.

Deixo aqui algumas citações do físico Robert Park, que tem tentado mostrar - pelos vistos sem sucesso, pois rios de dinheiro continuam a ser gastos nestes estudos - na sua coluna semanal "What's New" como é impossível que os telemóveis causem cancro.

All known cancer agents act by breaking chemical bonds in DNA, creating mutant strands that may multiply to become cancers. Microwave photons are orders of magnitude short of being able to break chemical bonds. The Federal Communications Commission, the Food and Drug Administration and the American Cancer Society recognize this, but for most Americans the words “quantum mechanics” are simply an announcement that you won't understand what follows.

Fact: cell phone radiation doesn’t cause cancer. Cancer agents break chemical bonds, creating mutant strands of DNA. Microwave photons cannot break chemical bonds. This is not debatable. In 1989, Paul Brodeur, a staff writer for the New Yorker, claimed in a series of sensational articles that electromagnetic fields from power lines cause childhood leukemia. Brodeur, however, understood none of this and when virtually every scientist agreed that it was impossible, Brodeur took their unanimity as proof of a massive cover-up. Other anti-science know-nothings followed Brodeur’s lead, shifting their attack to cell phone radiation. Cell phones have since spread to almost the entire population, but with no corresponding increase in brain cancer. Case closed.

Last week, Senate hearings were held asking whether cell phones cause brain cancer. Brian Walsh, writing for Time, described the outcome as "inconclusive." A collective groan rose from the nation’s physicists. "Not again?" It's been almost 17 years since David Reynard, whose wife died from brain cancer, was on Larry King Live. Reynard was suing the cell phone industry. He said his wife, "held it against her head, and talked on it all the time." That was enough for Larry King. However, all known cancer agent act by breaking chemical bonds, producing mutant strands of DNA. It would be like suing me for hitting someone with a rock thrown across the Potomac River. George Washington is said to have thrown a silver dollar across the Potomac. I can't throw that far, and microwave photons can't break chemical bonds. Not until you get up to the near ultraviolet, about 10,000 times more energetic than microwaves, are photons capable of causing cancer.

I read another article this week in which a physician warns that the risk for each use is minimal, "but over the years repeated exposure could produce genetic damage leading to cancer." I’ve been trying for years to throw a rock across the Potomac River. So far, they don’t go half way, but I’ll keep trying in case it’s cumulative.

Yesterday, the cell-phone controversy was taken to a new and substantially lower level. The Cohort Study on Mobile Communications (COSMOS) was launched in the UK to determine whether microwave radiation from wireless devices can induce cancer. It will track 250,000 users for 30 years to catch any slow growing cancers. Note the built-in job protection. The study will look for neurological diseases such as Parkinson’s and Alzheimer’s as well. Participants aged 18-69 are being recruited in Britain, Finland, the Netherlands, Sweden and Denmark. In Britain, COSMOS is inviting 2.4 million cell phone users to take part, and hoping 100,000 or so will accept. If they do the study really well, it will confirm Albert Einstein’s 1905 explanation of the photoelectric effect, for which he was awarded the 1921 Nobel Prize. Of course, the photoelectric effect is confirmed thousands of times annually by students in elementary physics lab courses. If it is done badly, this tedious and expensive study could perpetuate the public’s unfounded fear of radiation below the ultraviolet threshold. This must be stopped.

Saturday, May 15, 2010

Saldanha Sanches (1944-2010)



Morreu ontem uma figura ímpar do Direito Fiscal em Portugal. Saldanha Sanches, licencidado em Direito na Universidade de Lisboa, foi um dos principais críticos da falta de empenho dos políticos e da sociedade em geral no combate à corrupção. Nem sempre concordei com as suas posições, mas o que interessa verdadeiramente é a memória que deixa. E, para mim, o doutor Saldanha Sanches será sempre recordado como um brilhante jurista com uma grande capacidade de comunicar a complexa linguagem jurídica. Alguém que denunicou, muitas vezes sozinho, o gravíssimo problema da corrupão em Portugal.
Deixo aqui também um post escrito pelo Pedro Lomba no suctionvalcheck
Que descanse em Paz!


A morte de Saldanha Sanches hoje, aos 66 anos, é para mim completamente inesperada. E um absoluto choque. Há muito que não o via, nem sabia que ele andava a fugir do cabrão do cancro, como diz o Miguel Esteves Cardoso. Mas sinto este desaparecimento como pessoal. Tinha um enorme respeito e admiração pelo Prof. Saldanha Sanches. Sempre o vi como um dos académicos mais sérios e estimulantes que conheço. Como é óbvio, discordava dele em muitas coisas, mas curiosamente nestes últimos anos de desvergonha e corrupção mansamente aceite pelas pessoas via-me cada vez mais próximo do que ele escrevia. Era um brilhante académico que ensinava bem que temos mesmo de saber do que falamos. Saldanha Sanches conhecia como poucos o seu ofício (foi talvez o mais importante fiscalista português desde Alberto Xavier). Além disso, era um homem de opiniões e convicções e não as escondia, era um verdadeiro risk-taker, facto que lhe valeu a sua quota de chatices e inimizades. Nunca o vi usar aquele registo tecnocrático e de autoridade com que alguns professores (não apenas de direito) abordam o debate público, esquecendo que no debate público somos apenas aquilo que dizemos, os argumentos que temos ou não temos. Fui monitor do Prof. Saldanha Sanches em 1999 e aprendi muito e guardo muitas saudades desse ano. Já passou algum tempo. Vou sinceramente sentir a falta da sua lucidez e inteligência.


Adenda: Ao reler esta entrevista admirável de Saldanha Sanches lembrei-me duma coisa que talvez se soubesse menos e que está bem patente na estrevista: o seu gosto pela literatura. Lembro-me que no dia do exame de direito fiscal, há dez anos, estivemos a discutir os romances do Hemingway e Saldanha Sanches explicou-me o significado daquela frase famosa: "grace under pressure". Que ele evidentemente tinha.

Tuesday, May 11, 2010

Tolerância de Ponto


A vinda do Papa Bento XVI a Portugal mereceu que o estado garantisse tolerância de ponto aos funcionários públicos. A incoerência das reacções que isso provocou nos vários grupos políticos é curiosa. A direita santinha, sempre tão empenhada a criticar as greves e a falta de produtividade do nosso país, ficou agora bastante silenciosa. Grande parte da esquerda ficou, pelo contrário, escandalizada com a garantia desta tolerância de ponto aos funcionários públicos. Esta estranha inversão de papéis mostra que, na verdade, as convicções religiosas de cada um são suficientemente fortes para afastarem a coerência política.

De qualquer forma, o mais importante é que ontem, no Expresso, Daniel Oliveira (com quem raramente concordo) explicou muito bem porque é que esta tolerância de ponto é inaceitável. Reproduzo o texto integralmente.

Esta semana, ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus vêem as escolas dos seus filhos, públicas e supostamente laicas, encerradas. Razão: os católicos recebem o líder da sua Igreja e por isso todos os restantes são obrigados e ficar com os seus filhos em casa e muitos deles obrigados e pôr um ou dois dias de férias.

Esta semana, os cidadãos portugueses ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus estão impedidos de tratar de qualquer assunto que envolva o Estado porque os católicos (ou alguém por eles) decidiram, ao arrepio da leis da República, parar o país para tratar dos seus assuntos.

Esta semana, os funcionários públicos ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus estão impedidos de ir trabalhar para que os seus colegas católicos tratem de uma celebração religiosa que apenas a eles diz respeito.

Esta semana os contribuintes ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus pagam as despesas salariais de todos funcionários públicos - os católicos e os que não o sendo não podem ir trabalhar - para que a Igreja Católica, uma entre várias, receba o seu Papa.

Diz a Constituição da República Portuguesa: "Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, perseguido, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever por causa das suas convicções ou prática religiosa". Repito: ninguém pode ser privilegiado ou beneficiado. E diz também: "O Estado não discriminará nenhuma igreja ou comunidade religiosa relativamente às outras". Estou seguro que quando mais algum religioso tiver uma qualquer celebração semelhante não terá direito ao mesmo tratamento.

Esta semana a laicidade e neutralidade religiosa do Estado foi suspensa e todos somos católicos à força. Porque quando chega à relação do Estado com a Igreja Católica Apostólica Romana, os cidadãos não católicos são tratados como espectadores e a Constituição do País como adereço.

Friday, May 7, 2010

Guilherme Valente, Eduquês e Plano Inclinado

We can't define anything precisely. If we attempt to, we get into that paralysis of thought that comes to philosophers… one saying to the other: "you don't know what you are talking about!". The second one says: "what do you mean by talking? What do you mean by you? What do you mean by know?" - Richard P. Feynman

A participação de Guilherme Valente, editor da Gradiva, sobre educação no último Plano Inclinado tem dado que falar pela blogosfera, onde se têm espalhado tanto textos de concordância como de discordância com as suas palavras. É com agrado que verifico que o que Guilherme Valente teve para dizer foi levado a sério, independentemente de se concordar ou discordar, pois caso contrário não teriam existido tantas reacções como as que tenho visto.

Só tenho pena de verificar que muita gente continua a recusar-se a contra-argumentar as afirmações de pessoas como Nuno Crato ou Guilherme Valente, dizendo apenas que falam nessa "coisa vaga" que é o "eduquês" sem nunca definirem o que ele é. O eduquês não é nenhuma corrente assumida, mas apenas um nome satírico que Marçal Grilo em tempos colocou a essa forma vaga e estranha de abordar a educação, em que se coloca, no mau sentido, o aluno no centro do ensino, retirando ao professor o seu papel de ensinar e de impor disciplina numa sala de aula, assim como todas as consequências que daí resultam para a aprendizagem dos estudantes.

Desta forma, é evidentemente impossível dar uma definição clara, objectiva e inequívoca da palavra "eduquês". O que não impede, como é óbvio, que já toda a gente que acompanha os debates recentes sobre educação tenha percebido o que é o eduquês. De facto, após mais um programa do Plano Inclinado em que o convidado leva citações escandalosas de pessoas influentes na educação em jornais portugueses, é impossível não se perceber o que é o eduquês. No entanto, há quem finja que não percebe e se tente esconder com o facto de ainda não ter sido definido objectivamente para evitar ir ao confronto de ideias.

Aqui fica, para quem não viu ou quiser rever, o programa completo do último Plano Inclinado, assim como algumas citações de adeptos do "eduquês" que Guilherme Valente levou.




"Castiga-se o «mau comportamento», a falta de respeito, provocações, que afinal são sinais exteriores de algo que vai mal na interioridade emocional e afectiva dos alunos."

"Prémios aos alunos «bem comportados» nas aulas? Como se ser «bem comportado» fosse apenas uma escolha de ordem individual..."

Saturday, May 1, 2010

Paulo Guinote em Plano Inclinado

O professor Paulo Guinote tornou-se conhecido devido ao seu blog dedicado ao tema da educação, A Educação do meu Umbigo, um dos blogs escritos em língua portuguesa mais visitados. Guinote tem-se dedicado a expor vários problemas da educação em Portugal, através de opiniões suas e também divulgando textos alheios, assim como tem participado em vários eventos e conferências dedicados ao tema. No passado sábado, foi o convidado do Plano Inclinado, onde estiveram também Henrique Medina Carreira e Nuno Crato.

Guinote tem sido dos poucos professores do ensino pré-universitário com a coragem e lucidez para denunciar com clareza e objectividade o que está mal na educação. Neste programa em particular, juntamente com Nuno Crato citaram fontes claras do chamado "eduquês" que estão a influenciar as políticas do Ministério da Educação, inclusivé documentos do próprio Ministério. Muitas vezes, pessoas como Crato e Guinote são criticadas por falar muito desse tal "eduquês" sem nunca apontarem claramente, e de forma objectiva, onde essas teorias existem e quem as está a promover. Este programa mostra que tal argumentação não tem fundamento.


Regresso

Por diversas razões, o Artes Scientia Veritas esteve vários meses sem actualizações. Agora, decidimos voltar e fazer um esforço conjunto para manter actualizações regulares. Pedimos desculpa aos nossos leitores por estes meses de intervalo.

Tuesday, March 16, 2010

"Ruptura com o 'eduquês'", por Henrique Raposo

No Expresso de 6 de Março, a crónica de Henrique Raposo foi dedicada à educação. Aqui fica.

Paulo Rangel tem razão num ponto: a educação precisa de uma ruptura. Aliás, a polémica suscitada pelas ideias 'pedagógicas' de Rangel tem sido a parte mais interessante da campanha interna do PSD. Rangel, ao contrário de Passos Coelho, não tem medo de pisar o risco desenhado pela esquerda; não tem receio de romper o cerco do politicamente correcto. Por isso, este candidato a líder do PSD tem enfrentado, de forma desempoeirada, os dogmas do generalíssimo 'eduquês'. No fundo, Rangel tem defendido que o aluno não é o centro da escola. O centro da escola é, isso sim, o conhecimento que o aluno deve assimilar. Com uma previsibilidade pavloviana, os fiscais do antifascismo já soltaram os cães. Para estes profissionais da indignação, Rangel não passa de um defensor malévolo do 'antigamente'. O próprio Passos Coelho, sempre muito sensível às alergias da esquerda, também fez soar este alarme antifascista contra a 'escola' de Paulo Rangel.

Em Março de 2008, numa das primeiras crónicas aqui do Expresso, afirmei que a escola pública não ensina as crianças a desenvolver as capacidades básicas: ler e escrever. Isto porque o 'menino' é rei e senhor. O professor não pode repreender o 'menino', porque isso é fascismo travestido. E esta hiperprotecção do 'menino' acaba por ter um efeito ridículo, quase cómico: muitos alunos acabam o curso superior sem saberem escrever em condições. Ora, ainda hoje recebo e-mails de pessoas que me felicitam por "ter a coragem de dizer isto". Ao mesmo tempo, esta boa gente (quase sempre professores) diz-me que tem medo de falar deste assunto em público. Ou seja, em privado, e só em privado, as pessoas já dizem que os miúdos não aprendem nada na escola. No recato do seu e-mail, e só nesse recato, os portugueses consideram que 'ir à escola' é apenas um hábito social, que não contribui para o desenvolvimento de capacidades e de conhecimentos (são os pais, em casa, que ensinam as crianças). Mas, em público, toda a gente tem ainda medo de criticar esta farsa. Eu percebo: se afrontarem o 'eduquês', as pessoas são, de imediato, rotuladas de 'salazaristas'. Portanto, neste ambiente malsão, Rangel fez a ruptura necessária, porque trouxe para a superfície um debate subterrâneo.

Os pedagogos podem não apreciar as ideias de Rangel, mas o português normalíssimo sabe que este jovem político tem razão. O português ali do 3º direito vê, todos os dias, a escola primária a falhar na tarefa de ensinar o seu filho a escrever e a fazer cálculos matemáticos. O português do 5º esquerdo vê, todas as semanas, a escola secundária a não preparar a sua filha para a faculdade. Aliás, todos os portugueses vêem o ensino secundário a transformar-se, sob a complacência do poder político, numa linha de montagem de preguiça e de desonestidade intelectual. Há dias, descobri que os miúdos completam os trabalhos de casa com um mero copy/paste da Internet. E, pior ainda, descobri que os professores, quando recebem estes copy/paste, não podem chumbar os alunos prevaricadores. Perante esta farsa, só podemos dizer que Rangel tem toda a razão. A escola pública não está a formar cidadãos com capacidade para subir na vida. A escola pública está a formar digitadores de SMS destinados a permanecer na prisão do seu 'contexto sociofamiliar' (para usar uma expressão muito querida do 'eduquês').

Henrique Raposo

Friday, March 5, 2010

Plano Inclinado

Pedimos desculpa pela falta de actualização recente, uma falha que tentaremos começar a colmatar brevemente. Entretanto, aqui fica o Plano Inclinado da semana passada.


Tuesday, February 23, 2010

"Sair do Pântano"

Recomendo a leitura deste texto de José Pedro Lopes Nunes sobre os exames nacionais do ensino secundário. Destaco a seguinte passagem:

Defendo que os exames nacionais no ensino secundário deixem de ser realizados apenas num número muito limitado de vezes, e passem a ser realizados todos os anos, para todos os alunos. Na verdade, será de ponderar realizar exames nacionais não uma, mas duas vezes por ano (em Novembro e em Junho).

Fazer depender todo o resultado dos estudos correspondentes a um prolongado período de ensino de uma única avaliação pode ser causa de injustiças. De igual forma, terá que se aceitar que é muito pesada a carga psicológica imposta a uma avaliação desse tipo que tem lugar com intervalos de anos.

A solução não é impor o facilitismo, nem permitir a cada escola que favoreça os alunos aí inscritos através de exames “simpáticos” – exames que tenham alegadamente em conta o ambiente sócio-económico, as dificuldades específicas, e mais mil e uma desculpas. Pelo contrário, é necessário tirar peso psicológico aos exames nacionais, transformando-os numa mera rotina.
De facto, muitas vezes os alunos que são contra os exames nacionais utilizam como argumento o facto de não ser aceitável que grande parte da nota de final do secundário (e também de candidatura à Universidade) esteja dependente de umas poucas horas em que se realizam os exames. Concordo em absoluto, e por isso mesmo é que defendo mais exames nacionais. Desta forma, grande parte da nota não será decidida ali numas horas no final do secundário, mas estará repartida pelos 3 anos de ensino, sendo decidida através de exames justos que colocam todos os alunos em pé de igualdade.

Para além disso, a existência mais regular de exames teria também outra vantagem: a preparação dos alunos para a Universidade. Não me parece haver dúvidas de que a razão pela qual muitos estudantes se espalham quando chegam à Universidade tem que ver com a falta de ritmo e de organização que não lhes é incutida no ensino secundário. Na verdade, mais exigência e mais exames no secundário poderão conduzir, consequentemente, a melhores performances dos alunos no ensino superior.

Saturday, February 20, 2010

"iPad, iPod, iPud", por Nuno Crato

Artigo de Nuno Crato no blogue do Expresso Passeio Aleatório, também publicado na edição de imprensa de 30 de Janeiro, a propósito das novas tecnologias e da sua aplicação no ensino.

Sou um 'teckie' - um apaixonado pela tecnologia. Sempre fui. Aderi ao correio electrónico em 1988 e fiz a minha primeira página Web em 1992. Tenho um iPhone. E só não sei se vou comprar um iPad porque tenho já um Kindle. Fico contente sempre que a tecnologia me facilita a vida e tento que as minhas aulas lucrem com a introdução de novas técnicas.

Não sou o único, claro. O meu colega Harm-Jan Steenhuis, um holandês que agora lecciona numa universidade do estado de Washington, é um dos muitos que gostam também de experimentar as novas tecnologias. Na passada semana, ele alcançou uma súbita e inesperada notoriedade. As suas experiências educativas apareceram difundidas por várias agências de noticiário científico e académico. A imprensa especializada reproduziu-as e Harm-Jan começou a receber telefonemas de jornalistas. Tudo isso porque escreveu sobre as suas iniciativas recentes de introdução da tecnologia no ensino.

O artigo que publicou relata uma experiência de introdução de testes electrónicos e apareceu no "International Journal of Operations Management Education" (3-2, pp. 119-148). Harm-Jan e os seus colegas resolveram fazer semanalmente online curtos testes (quizzes), para revisão frequente da matéria e avaliação dos alunos. Fazer testes curtos e frequentes é uma técnica antiga - pretende-se que os estudantes vão acompanhando a matéria e percebam onde estão a falhar. A inovação consiste em automatizar esses testes, de forma a que os alunos possam obter imediatamente a correcção das respostas e a sua classificação.

Pouco tempo antes, Harm-Jan tinha experimentado outra técnica, a dos clickers, que são pequenos aparelhos individuais onde cada aluno aperta um botão para responder a uma pergunta. São usados em alguns grandes anfiteatros de universidades dos Estados Unidos. A meio da aula, o professor faz uma pergunta. Cada aluno aperta um botão do seu aparelho individual para responder. As respostas são transmitidas electricamente ou por via rádio a um computador que as interpreta. Instantaneamente, o professor fica a saber quais os alunos que responderam correctamente à pergunta e os que se enganaram. Pode usar os resultados para os classificar ou para perceber se está a ser seguido e onde estão as dificuldades dos alunos.

Harm-Jan Steenhuis e os seus colegas tiveram um grande sucesso com estas técnicas. Os estudantes aderiram, e parece que estavam mais activos nas aulas. No entanto, quando resolveram avaliar os resultados no que realmente interessa, que é a aprendizagem, verificaram que os alunos não tinham aprendido mais. Ficaram surpresos, pois conheciam muitos artigos publicados em revistas de educação que apregoavam bons resultados com as novas tecnologias - falavam da promoção de uma "aprendizagem activa", de um "maior envolvimento dos estudantes no processo de aprendizagem". Foram ver esses artigos e ficaram mais surpreendidos ainda. Os tais "bons resultados" referiam-se apenas ao entusiasmo dos alunos. Não a uma melhoria da sua aprendizagem.

Harm-Jan disse-me, cauteloso: "Nem me passa pela cabeça criticar as novas tecnologias". Respondi-lhe que não precisava de mo dizer. Sou bem capaz de ir comprar um iPad, um iPude e instrumentos de todas as letras do alfabeto, mas não vou pretender que os meus alunos vão aprender mais só por causa disso.

Nuno Crato

Tuesday, February 16, 2010

Plano Inclinado

Plano Inclinado do passado Sábado, com Henrique Medina Carreira, Nuno Crato e João Salgueiro, sobre Economia e Finanças Nacionais e Internacionais.


Monday, February 15, 2010

O Futuro Inventa-se

António Câmara completou a sua licenciatura em Engenharia Civil no Instituto Superior Técnico, continuando estudos nos Estados Unidos, primeiro em Virginia e depois no MIT. Actualmente, é professor na Universidade Nova de Lisboa, e propõe, no seu livro O Futuro Inventa-se, uma nova universidade.

Para o autor, a Universidade deve repensar o seu papel, tornando a sua relação com a sociedade muito mais activa. Deve dedicar-se a formar jovens inovadores e não apenas a ensiná-los como passar nos exames, deve incentivar mais a investigação científica, deve promover as actividades extra-curriculares junto dos alunos através de projectos entusiasmantes, deve ser um espaço agradável que procure atrair visitantes, entre outras funções que permitiriam melhorar a educação e a investigação e, a mais longo prazo, a economia e a sociedade.

Saturday, February 13, 2010

A liberdade está em causa?

Depois do recente caso com Mário Crespo e da divulgação das escutas do caso Face Oculta por parte do Sol, é legítimo perguntarmo-nos se a liberdade de expressão e de imprensa está em causa. As respostas a esta questão têm inundado a blogosfera e os jornais, oscilando entre dois extremos radicais: por um lado, há quem continue a defender Sócrates para lá do que é sério fazer-se; por outro, também existem os que já anunciaram a morte da liberdade de expressão em Portugal.

Neste contexto, penso que são sensatas as seguintes palavras:

O Governo costuma dizer que nós somos um país onde há grande liberdade. É verdade: há uma grande liberdade de expressão. É por isso que este acto não devia ter acontecido. Este acto veio manchar o nosso regime democrático. Este episódio é muito negativo e lamento que o senhor primeiro-ministro se escude permanentemente no silêncio e na ausência de resposta, porque o silêncio não ajuda o primeiro-ministro a limpar uma nódoa que ficará e que o perseguirá durante muito tempo. É que, afinal de contas, o Governo actuou com o objectivo de eliminar uma voz incómoda.
Estas palavras são de José Sócrates em 2004, quando o Governo de Santana Lopes fez pressão para a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI. E este antigo Sócrates, inocente e bonzinho, tem razão. A liberdade de expressão não está neste momento em causa, e expressões como "atentado contra o estado de direito", como Paulo Rangel utilizou no Parlamento Europeu, são exageradas. Contudo, isto não significa que se deve atenuar a gravidade da situação. Afinal, Sócrates e o seu Governo já fizeram muito pior que Santana Lopes, com os escândalos que envolvem o primeiro-ministro a sucederem-se uns aos outros. Sócrates é, neste momento, um líder fragilizado e sem credibilidade. Com ou sem PS no Governo, não creio que a sua liderança se prolongue por muito mais tempo.

Friday, February 12, 2010

"Exploradores", por Miguel Monjardino

Artigo de Miguel Monjardino, publicado na edição do Expresso de 6 de Fevereiro, extraordinariamente pertinente no que diz respeito ao nosso presente e futuro.

A inovação tecnológica e o empreendedorismo sempre foram coisas importantes. Mas agora que estamos claramente a entrar numa época em que o conhecimento é cada vez mais relevante, a inovação tecnológica e o empreendedorismo serão cruciais em termos económicos e políticos. Os países que nas próximas décadas conseguirem atrair e manter as empresas privadas mais capazes de inovar, desenvolver e vender produtos nos mercados mundiais serão mais ricos e influentes em termos internacionais.

A Apple, liderada por Steve Jobs, é hoje considerada uma das empresas mais inovadoras no mundo. O "The Economist" da semana passada chamava a atenção para o facto de a empresa ter conseguido transformar nas últimas décadas as indústrias dos computadores, da música e das telecomunicações. O novo iPad promete continuar a transformar os computadores e as telecomunicações e a reinventar a imprensa.

Um olhar para as empresas mais inovadoras do ponto de vista tecnológico e para a geografia do empreendedorismo mostra que os EUA continuam a ser uma espécie de país-farol nestas duas áreas. Quem é que vem a seguir? No meio de alguns candidatos, vale a pena olhar para Israel.

À primeira vista, a sugestão pode parecer absurda. Afinal de contas, o Médio Oriente não é uma região estável do ponto de vista geopolítico nem integrada economicamente, a lista de candidatos interessados em destruir Israel é longa e o país só tem sete milhões de pessoas. Mas como Dan Senor e Saul Sanger mostram em "Start-Up Nation. The Story of Israel's Economic Miracle" (Nova Iorque: Twelve, 2009), as aparências enganam.

Sessenta e três empresas israelitas estão cotadas no Nasdaq em Nova Iorque. Se juntarmos todas as empresas europeias cotadas na mesma bolsa, ficamos muito longe deste número. Israel atrai tanto capital de risco para investimento em empresas tecnológicas como a França e a Alemanha juntas. Nenhum país do mundo dedica uma percentagem tão elevada do seu produto nacional bruto à investigação e desenvolvimento civil como Israel.

De onde é que vem toda esta inovação e capacidade israelita para criar e vender produtos nos mercados internacionais? Senor e Sanger sugerem três respostas. A primeira é a existência de excelentes universidades, fundos de capital de risco e um elevado número de engenheiros no país. A segunda, é um ambiente social que privilegia uma cultura igualitária, estimulante, individualista e tolerante em relação ao falhanço. A terceira, é a importância de um longo serviço militar obrigatório numas forças armadas extremamente competitivas que fazem um uso intensivo da inovação tecnológica e da liderança.

E nós, por cá, como é que estamos? "O Futuro Inventa-se" (Objectiva: 2009), de António Câmara, professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia na Universidade Nova e presidente da YDreams, é o melhor ponto de partida para esta importante discussão sobre a nossa capacidade para usar o conhecimento na criação de novas empresas e produtos.

António Câmara argumenta que um dos nossos grandes problemas nestas duas áreas é que "a universidade portuguesa forma estudantes para serem empregados e não 'exploradores': líderes políticos, artistas, cientistas e empreendedores". A título de comparação, veja-se, por exemplo, o caso da Universidade do Michigan (EUA), onde 10% dos caloiros - seiscentos alunos - criaram um negócio no ensino secundário.

A aversão ao risco e ao falhanço da nossa sociedade, a falta de fundos de capital nas universidades e de incentivos académicos para o empreendedorismo dos professores são outros pontos analisados por António Câmara.

"O Futuro Inventa-se" é um livro indispensável. Não precisamos de fazer melhor. Precisamos de fazer muito melhor. Para isso é necessário uma nova geração de exploradores. Só assim teremos um futuro melhor.


Empreendedorismo
35 anos depois da sua fundação, a Apple é um exemplo da inovação tecnológica e do empreendedorismo. Israel é um país extremamente interessante nestas duas áreas. Portugal precisa de uma nova geração de exploradores.

Barómetro
+ O Iraque chegou a acordo com a Exxon e a Shell sobre o desenvolvimento de um importante campo petrolífero no sul do país
- O impacto dos défices orçamentais na credibilidade e no preço das dívidas públicas da Grécia, Portugal e Espanha

Miguel Monjardino

Wednesday, February 10, 2010

Simplicidade

Numa altura em que os anúncios são, de uma forma geral, cada vez mais estupidamente rebuscados, é agradável de vez em quando ver algo assim, com tão bom gosto, tão simples e eficaz.


Monday, February 8, 2010

Plano Inclinado

Plano Inclinado do passado sábado, com Nuno Crato, João Duque e João Queiró, sobre o orçamento para o ensino superior.


Friday, February 5, 2010

Manifestação Estudantil


Ontem, estudantes de todo o país (centenas? milhares? as notícias diferem...) saíram às ruas para se manifestarem, pedindo "um novo estatuto", "educação sexual", "o fim dos exames nacionais, das aulas de substituição e das provas de recuperação". Os estudantes portugueses do ensino básico e secundário têm muitas razões para protestar, mas, na sua generalidade, essas razões não são certamente as que reivindicam. Compreendo que o actual estatuto do aluno tenha algumas medidas injustas que mereçam ser alteradas, mas o mesmo não se passa com o essencial as restantes reivindicações.

Por exemplo, o objectivo da reivindicação da educação sexual é cada vez mais claro: acrescentar mais uma disciplina ao curriculum, entre tantas que os alunos hoje já têm, que não esteja lá para transmitir e avaliar os conhecimentos essenciais que devem ser atribuídos à escola, mas sim para entreter os alunos durante mais umas horas ao longo do ano, sob a máscara de que se está a promover as competências para uma boa cidadania, etc., etc. Para além disso, o fim dos exames nacionais - um dos pilares fundamentais de uma educação justa - descredibiliza totalmente protestos como este.

Contudo, há dados mais preocupantes do que simplesmente as bandeiras que são defendidas. Uma aluna de 15 anos que estava na manifestação foi entrevistada pelo Público, dizendo que foi lá "para reivindicar os meus direitos”. No entanto, quando o entrevistador perguntou que direitos são esses, a aluna deu a seguinte resposta: “Isso já é mais difícil de explicar. Só sei que o Governo está a fazer tudo mal”. Esta atitude bem portuguesa, de reivindicar só por ser um direito, perdendo a noção do que é mais justo e correcto, toma proporções particularmente assustadoras no meio estudantil.

Acertadamente, a Plataforma Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Básico e Secundário não apoiou iniciativa. Segundo o Público, o porta-voz da plataforma disse o seguinte, que de uma forma geral me parece acertado:

"Há democracia nas escolas. Há é pessoas que não a sabem praticar e que usam temas de bandeira fáceis e que não levam a lado nenhum." Ainda assim, o estudante de 19 anos assume que tem pontos de vista em comum, como o Estatuto do Aluno: "Não faz sentido que seja igual um estudante dar uma falta justificada ou injustificada. Não pode ser igual estar doente ou estar no café."

Wednesday, February 3, 2010

A Democracia está doente

“A liberdade é a coexistência de modelos e não a imposição de um em concreto”. Esta frase, que o jornalista Henrique Monteiro escreveu num artigo publicado na edição online do Expresso, resume em traços gerais aquilo que deveria ser a base do pensamento de um verdadeiro democrata quando confrontado com uma maneira diferente de pensar. Infelizmente, esta frase não poderia ser dita pelo nosso primeiro-ministro, que lida muito mal com a crítica e com opiniões contrárias à sua actuação como governante. São mais do que conhecidos os habituais telefonemas de José Sócrates (ou elementos que lhe são próximos politicamente) para redacções de jornais e televisões como forma de pressionar jornalistas “incómodos”, tentando condicionar um trabalho que se pretende sério e independente. Mas ainda mais grave do que telefonemas são os seus efeitos práticos. Manuela Moura Guedes, José Eduardo Moniz, José Manuel Fernandes e muito recentemente Mário Crespo foram afastados de cargos que desempenhavam no exercício das suas funções, precisamente por serem “incómodos” para o regime e para muitos lambe - botas que dele dependem.

Não basta a um primeiro-ministro citar grandes vultos da literatura humanista ou personalidades que se destacaram na defesa da liberdade. É preciso ser um exemplo na sua defesa, o que inclui o respeito por quem pensa de maneira diferente da nossa. Estamos longe de viver numa claustrofobia democrática, mas a liberdade já “respirou” muito melhor do que actualmente.

Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro do jornal amador "Ecos".

Tuesday, February 2, 2010

Orçamento de Estado e Segurança Social

Plano Inclinado do passado sábado, sobre o Orçamento de Estado e a Segurança Social, com Medina Carreira, João Duque e Miguel Gouveia.

Dúvidas?

"Better to remain silent and be thought a fool than to speak out and remove all doubt." - Abraham Lincoln

O melhor que o Governo teria a fazer sobre o caso Mário Crespo seria ou o silêncio ou algum comentário tão curto que não enterrasse ainda mais José Sócrates, depois de todos os inconclusivos escândalos anteriores. Jorge Lacão soube perceber isso muito bem, e por isso limitou-se a afirmar que não comenta casos com base em "calhandrices". Infelizmente para si próprio e para o primeiro-ministro, Augusto Santos Silva não teve a mesma perspicácia, e acabou por falar demais.

Segundo o Público, Santos Silva acha "absolutamente inacreditável" que se queira "fazer um texto com base no que supõe serem informações que lhe tenham sido transmitidas acerca de conversas privadas, tidas em restaurantes". Curiosamente, o ministro da defesa não acha "absolutamente inacreditável" que o primeiro-ministro, acompanhado por dois ministros, se dirija num restaurante à mesa onde está o director de programas da SIC e lhe diga que Mário Crespo é um problema que tem que ser solucionado.

Para além disso, também é estranho que não ache "absolutamente inacreditável" que ele próprio classifique como privadas conversas que são ouvidas noutras mesas do restaurante. Eu, pelo menos, quando quero garantir privacidade, procuro falar de forma a que os outros não ouçam. O que é "absolutamente inacreditável" aqui é que venha agora Santos Silva dar lições de moral sobre privacidade, dizendo que “todos temos direito à privacidade das nossas comunicações”, procurando defender o primeiro-ministro (a meu ver, Santos Silva já está a alargar demasiado o conceito de ministro da defesa) de forma a torná-lo a vítima destes acontecimentos preocupantes, que nem tem direito a ter conversas em privado sobre os jornalistas cuja situação quer ver solucionada.

Como se não bastasse, Santos Silva conseguiu dizer ainda que a situação "não merece nenhum crédito", já que "as fontes não são conhecidas". Claro que, sendo agora algumas fontes já conhecidas, provavelmente é altura de voltar a entrevistar o ministro, que certamente já lhes dará crédito. No meio de tanta lábia, Santos Silva só não conseguiu fazer uma coisa: desmentir o sucedido. Se tivesse ficado calado, algumas dúvidas teriam permanecido. Assim, acabou de dissipá-las...

Monday, February 1, 2010

Parece que, afinal, o problema já foi resolvido...

O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”.

Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.


Estes são excertos de um artigo de Mário Crespo publicado hoje pelo Instituto Francisco Sá Carneiro. O artigo foi originalmente escrito para ser publicado no Jornal de Notícias, mas, por alguma razão, não o foi...

Saber e Saber Ensinar

Muitas vezes se diz que há professores que, embora saibam muito, não sabem ensinar. Estranhamente, raramente se fala daqueles que, embora saibam muita pedagogia sobre como ensinar, não sabem o suficiente sobre as matérias para as poderem ensinar de forma a transmitir os conhecimentos necessários aos seus alunos. E digo que é estranho porque, infelizmente, este segundo tipo é muito mais comum e preocupante.

Quando se reflecte sobre esta questão é necessário perceber que saber e saber ensinar, embora sejam duas coisas distintas, estão intimamente ligadas. Existem, de facto, pessoas com um elevado conhecimento sobre determinadas matérias que têm dificuldades em explicá-las, mas isso não invalida que, de uma forma geral, um conhecimento mais aprofundado seja determinante para uma maior facilidade na explicação dos conceitos.

Esta estreita relação entre saber e saber ensinar foi uma das conclusões a que chegou Liping Ma no seu livro, recentemente editado em Portugal, Saber e Ensinar Matemática Elementar. Entrevistando professores americanos e chineses de escolas do ensino básico de vários níveis de qualidade, Liping Ma colocou-lhes questões directamente relacionadas com a matemática que é dada no ensino básico. Reparou que aqueles que tinham uma profunda compreensão do conceito e do algoritmo relacionado com cada um dos problemas, eram também, naturalmente, os que mais facilidade tinham em explicá-lo e transmiti-lo. Infelizmente, ocorreu muitas vezes, sobretudo nos professores americanos, que embora se conhecesse o procedimento do algoritmo, não se sabia fundamentá-lo (por exemplo, o algoritmo da multiplicação com mais de um dígito), e isso impossibilitava a capacidade do professor para corrigir os erros dos seus alunos de forma a que eles entendessem o porquê de estarem a cometer determinado erro.

Várias personalidades ligadas à educação têm-nos alertado para o facto de se dar demasiada importância ao ensino de pedagogias da educação a futuros professores, e muito pouca aos próprios conceitos que vão ensinar. O livro de Liping Ma confirma os perigos desta abordagem na formação de professores. É por isso que, quando nos perguntamos se é mais importante saber ou saber ensinar, é necessário que nos recordemos que o segundo não pode existir sem o primeiro. Saber é a pedagogia mais importante que se pode fornecer a alguém que quer saber ensinar.

Friday, January 29, 2010

"Para onde vai Barack Obama?", por Miguel Monjardino

Destaque habitual para o artigo de Miguel Monjardino, publicado na edição do Expresso de 23 de Janeiro (portanto, antes do discurso de Barack Obama no Congresso).


"Sinto a mudança no ar! E vocês?", perguntou Edward Kennedy no seu grande discurso de apoio a Barack Obama na American University, em Janeiro de 2008. A multidão delirou com a retórica política apaixonada do grande leão da esquerda americana em defesa de Obama.

Kennedy morreu em Agosto do ano passado mas o seu sucessor em Washington não será Martha Coakley, a candidata escolhida pelos democratas de Massachusetts. Scott Brown, um republicano desconhecido e com uma agenda política muito diferente daquela que Kennedy defendeu no discurso na American University, é o herdeiro de um dos lugares mais sagrados da política norte-americana.

Há factores locais que explicam esta enorme surpresa política. Nos últimos dias, a Casa Branca e a liderança dos democratas no Senado e na Câmara dos Representantes crucificaram Martha Coakley e a sua campanha incompetente e distraída. Em Washington, os democratas não estão interessados em que a eleição do Massachusetts também tenha uma leitura nacional sobre Barack Obama e as suas prioridades políticas. O problema é que tem. E muitas!

Quando um estado como o Massachusetts, onde os democratas e os independentes representam 80% do eleitorado, elege um republicano com a agenda de Scott Brown, é evidente que o Presidente tem um problema político no resto do país.

A vitória de Scott Brown mostra duas coisas preocupantes para Barack Obama e para os democratas que vão a eleições no Outono. A primeira é o colapso do apoio dos independentes e dos reformados. Os independentes tendem a ser centristas do ponto de vista político - brancos e trabalhadores com pouca educação universitária. Este bloco eleitoral apoiou Obama e os democratas de uma forma decisiva em 2008. A partir da Primavera deste ano, os independentes começaram a distanciar-se do Presidente.

Scott Brown só conseguiu ganhar com o apoio deles e dos reformados. A maioria dos dois grupos é frontalmente contra a reforma da Saúde de Obama. Ao contrário do que acontece em Portugal - um país em que as pessoas tendem a ter pouca confiança em si mesmas e adoram essa coisa misteriosa e protectora chamada 'Estado' -, os independentes americanos têm enormes suspeitas em relação ao excesso de poder e influência em Washington. Estes independentes estão claramente furiosos com Obama e com a liderança democrata no Congresso. A sua influência em estados como Colorado, Wisconsin, Florida e Ohio poderá causar problemas aos democratas nas eleições do Outono e à campanha de reeleição de Obama em 2012.

A vitória de Brown tornou mais clara a dificuldade do Presidente em estabelecer uma relação emocional com a classe média americana. Maureen Dowd, a colunista do "New York Times", tem chamado a atenção para este ponto.

Onde é que tudo isto deixa Barack Obama? O Presidente precisa de convencer a maioria dos americanos de que consegue realmente liderar e ajudar a resolver os seus problemas. Mas para o realizar precisa de fazer uma escolha difícil do ponto de vista político.

Obama ganhou a presidência prometendo duas coisas: profundas mudanças políticas que tanto entusiasmaram Edward Kennedy e a ala esquerda dos democratas e cooperação com os republicanos em Washington. O problema é que o big bang legislativo de Obama está a alienar uma parte importante da coligação que o elegeu, coloca em perigo político os democratas eleitos por distritos conservadores e é incompatível com as prioridades dos republicanos.

No início do seu segundo ano na Casa Branca, Barack Obama está entre a audácia e o pragmatismo. O discurso sobre o Estado da União na próxima quarta-feira promete ser muito interessante.

Miguel Monjardino

A estupidez não tem limites


Fui hoje almoçar fora com o meu pai ao restaurante habitual. Costumamos ser clientes mais ou menos assíduos há cerca de 10 anos. A comida que lá servem é quase sempre muito boa e raramente temos razões de queixa nesse aspecto. O homem que serve as pessoas à mesa é também dono do restaurante juntamente com os pais. São pessoas bastante simpáticas das quais nunca tivemos razões de queixa. No entanto o rapaz que nos costuma servir à mesa, por vezes costuma fazer uns comentários acerca das notícias que passam na televisão que me deixam estupefacto. Normalmente os alvos dos comentários são os mesmos que a extrema-esquerda (do punho cerrado à caviar) costuma fazer em matéria de política internacional, sempre com os EUA como os culpados de tudo o que acontece no Mundo. Mas hoje, acerca de uma notícia sobre o Haiti que passava na televisão, rebentou completamente com a escala da estupidez que eu pensava que terminava em Chavéz. A pérola foi a seguinte: "Eu não percebo o que é que estão lá a fazer 7000 e tal marines. Cá para mim eles não fazem nada e quanto mais gente morrer lá melhor para tornar aquilo diferente como eles querem." Eu não comentei devido ao estado de choque em que fiquei. Não sei se fiz bem, mas começo a achar que em muitas situações já não adianta combater sozinho contra alguns "moinhos de vento" da ignorância.

Thursday, January 28, 2010

Em que é que ficamos?!


Público
Saúde e empregos são as grandes prioridades de Obama
O Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, prometeu ontem continuar a lutar pela reforma do funcionamento do sistema de saúde e instou os dois partidos no Congresso a ultrapassar as suas divisões e aprovar a nova legislação que garantirá o acesso a cuidados médicos a mais de trinta milhões de pessoas actualmente fora do sistema.
[Em seguida, o Público dedica quatro parágrafos às palavras de Obama sobre a reforma do sistema de saúde]
Expresso
Barack Obama quer mais emprego
Presidente Barack Obama proferiu ontem o discurso do Estado da União, revelando uma mudança de estilo. A prioridade passa a ser o emprego e a economia. Outros assuntos, como a reforma do sistema de Saúde, podem esperar.
[No artigo do Expresso, a reforma do sistema de saúde apenas é referida para dizer que Obama apenas lhe dedicou 2 minutos em hora e meia de discurso]

Wednesday, January 27, 2010

Auschwitz - 65 anos depois


Foi há 65 anos que as tropas aliadas libertaram os 7500 prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, pondo fim à principal máquina de extermínio que operou durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo reza a História morreram em Auschwitz cerca de 1 milhão de judeus, 70000 intelectuais polacos e prisioneiros de guerra soviéticos e 19000 ciganos. Existem também algumas estimativas que apontam para cerca de 1.5 milhões de mortos.

Importa hoje, tal como sempre, lembrar às gerações actuais e futuras que existiram episódios na História da Humanidade que nos mancham de vergonha para sempre. Não só em respeito pela memória dos milhões de seres humanos que perderam barbaramente a sua vida em Auschwitz, mas também para que jamais esses tempos se voltem a repetir, importa condenar e lembrar uma das páginas mais negras da História. Como disse Gilbert Chesterton: Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Os milagres são possíveis?


Os cientistas e os artistas tendem a ver a ciência e a arte de formas radicalmente diferentes. Se, por um lado, como já aqui defendi, não me identifico com a forma como muitos artistas olham para a ciência, a verdade é que, por outro, também não sou apologista da forma como alguns cientistas vêem a arte.

O caso que me é mais próximo é o do cinema. Por exemplo, já várias vezes tive oportunidade de ler críticas por parte de cientistas ao facto de muitos filmes defenderem a superstição em vez da razão, pois dessa forma incita-se as pessoas a serem crédulas, ao invés de aprenderem a lidar com os princípios do cepticismo e do método científico.

Os cientistas orgulham-se - e com razão - de terem a capacidade de, quando entram no laboratório, colocarem de lado as suas crenças, para não se iludirem no seu trabalho de investigação. No entanto, penso que deveriam ter essa mesma capacidade quando, por exemplo, entram numa sala de cinema. Vejamos alguns exemplos em que, na minha opinião, essa capacidade é importante.

Quando, no final do filme Sinais, de M. Night Shyamalan, Mel Gibson (um pastor que perdera toda a sua fé quando a mulher morreu num acidente) recupera as suas crenças mais profundas ao aperceber-se de que as coincidências não existem, para finalmente voltar a dar um sentido à sua vida, pouco me importa que, na verdade, as coincidências não sejam obra do destino, mas obedeçam às leis matemáticas das probabilidades. O poder daquelas imagens, e sobretudo dessa extraordinária sequência final, torna irrelevante o que as coincidências são no nosso próprio mundo. No(s) mundo(s) de Shyamalan, devido à honestidade e à inocência do olhar sobre a fé, assim como à complexidade dos medos que assolam as suas personagens, os milagres são possíveis.

O que é impossível é falar em milagres e em cinema sem pensar em Ordet (na imagem), do dinamarquês Carl Dreyer. No final do filme, para espanto de todos, quando o "maluquinho" da família pede com verdadeira fé à personagem Inga, que morrera a dar à luz, que volte à vida, acontece um milagre. Nesse momento, pouco importa que, de volta à realidade do nosso mundo, eu esteja bem consciente de que não temos conhecimento de que algum milagre tenha de facto acontecido. No nosso mundo não há milagres, mas este dado em nada limita o poder daquele momento; pelo contrário, apenas contribui para o acentuar. Não admira que João Bénard da Costa afirme que viu "um milagre acontecer em Ordet", e "se me disserem que é cinema eu respondo que não é, não". Em Dreyer, os milagres fazem-nos acreditar.

Quando vejo Shyamalan, Dreyer e outros realizadores em que o tema da fé predomina com imagens tão comoventes e poderosas, sou profundamente crente. Claro que, fora da sala de cinema, a conversa é outra.

Tuesday, January 26, 2010

Plano Inclinado - Défice, Investimento e Educação

Plano Inclinado do passado sábado, com os comentadores usuais. Os temas são o défice, o investimento e a educação.


Saturday, January 23, 2010

Sem Comentários

Chávez acusa EUA de provocar sismo no Haiti

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, assegurou que foram os EUA que provocaram o sismo no Haiti. “É um resultado claro de uma prova da marinha norte-americana”, disse, sublinhando que “o terramoto experimental dos EUA devastou o país”. A notícia, com base num comunicado de imprensa enviado pelo governo venezuelano, foi avançada pela televisão estatal Vive e afirma que os “EUA já andavam a monitorizar os movimentos e as actividades navais naquela zona desde 2008”.

Segundo Caracas e Moscovo, “o resultado final das experiências faz parte do plano de destruição norte-americano para o Irão, que consiste numa série de terramotos planeados para destruir o actual regime islâmico”.

Lido no i.

Linguagem e Preconceitos

Quando li The Blank Slate, de Steven Pinker, um dos capítulos que achei mais interessantes era dedicado à linguagem. Numa secção desse capítulo, o autor aborda a necessidade que a sociedade tem em mudar constantemente os nomes das coisas contra as quais existem preconceitos. Mas, bem vistas as coisas, isto em nada contribui para diminuir preconceitos, pois, como é evidente, o preconceito não está contra o nome, mas - como a própria palavra indica - contra o próprio conceito.

São vários os exemplos em que isto acontece na nossa sociedade. Um dos mais típicos é a insistência de certas pessoas em proibir que se diga "cidadão americano" ou "norte-americano", para se passar a dizer "estado-unidense", pois estão de alguma forma convencidas de que dizê-lo revela um desrepeito pelos restantes países do continente Americano, e que a expressão só é comum devido à mania dos Estados Unidos de que são poderosos e ao desejo que têm em inferiorizar os outros (?!). No entanto, há casos mais espantosos, e um relato de Pinker permite que nos apercebamos onde por vezes chega esta moda inconsequente, cujo único objectivo é ser politicamente correcta:

Even the word minority — the most neutral label conceivable, referring only to relative numbers — was banned in 2001 by the San Diego City Council (and nearly banned by the Boston City Council) because it was deemed disparaging to non-whites. “No matter how you slice it, minority means less than,” said a semantically challenged official at Boston College, where the preferred term is AHANA (an acronym for African-American, Hispanic, Asian, and Native American).

O autor conclui então com um acertadíssimo comentário pessoal, cuja frase final me parece particularmente relevante. Afinal, como saber que determinado preconceito está a desaparecer?

(...) concepts, not words, are primary in people's minds. Give a concept a new name, and the name becomes colored by the concept; the concept does not become freshened by the name, at least not for long. Names for minorities will continue to change as long as people have negative attitudes toward them. We will know that we have achieved mutual respect when the names stay put.

Friday, January 22, 2010

Era Uma Vez na América


Um dos melhores filmes da história do Cinema dá nome a um recente blog de Nuno Gouveia e José Gomes André sobre os Estados Unidos da América. Recomendamos aos leitores interessados na política desse país que passem por lá.

Wednesday, January 20, 2010

"Selecção Natural", por Nuno Crato

Destaque habitual para o artigo que Nuno Crato escreve semanalmente no blogue do Expresso Passeio Aleatório, também publicado na edição de imprensa de 16 de Janeiro.

Os evolucionistas admitem há muito que a selecção natural foi influenciada por alterações do meio ambiente. Admitem, por exemplo, que as alterações climáticas teriam transformado as florestas onde os nossos antepassados remotos viviam, criando savanas. Questionam se essa transformação não teria acelerado a adopção de uma postura erecta, com todas as correlativas transformações do crânio e do cérebro que nos tornaram o que hoje somos.

Mais recentemente, começaram a discutir se, além dessa influência, não haveria uma outra, a da própria sociedade humana, que poderia ter acelerado as mudanças genéticas. Há algumas décadas, a simples colocação do problema teria enfurecido muitos dos que denunciavam, com razão, extrapolações evolucionistas para teorias e práticas deploráveis, de que é exemplo a eugenia. Esta última, criada pelo naturalista inglês Francis Galton, primo de Charles Darwin, preconizava que se acelerasse a evolução fomentando a procriação dos mais aptos. Na reacção à eugenia, além de argumentos morais decisivos, estava subjacente a ideia de que a selecção é um processo muito lento, com um horizonte temporal de centenas de milhares de anos, e que o desenvolvimento das sociedades humanas teria secundarizado os factores da evolução biológica. A cultura teria tomado conta do palco.

Segundo discutem hoje os evolucionistas, a cultura terá mesmo tomado o palco, mas também na selecção natural. A alteração genética, sempre em acção, mesmo nos nossos dias, terá sido influenciada e acelerada pelas nossas atitudes culturais, ou seja, pelos comportamentos transmitidos por ensino directo, pela imitação e por outras formas de interacção social. Um exemplo dessa influência é a decorrente da introdução do pastoreio nas sociedades pré-históricas. Várias investigações têm mostrado que o pastoreio e a pecuária favoreceram uma evolução biológica positiva de tolerância ao leite nos adultos.

Outro exemplo muito estudado é o da rápida mudança genética de algumas populações da África Ocidental, que aumentaram a resistência à malária. Acredita-se que essa mudança deriva da devastação de florestas pela introdução da agricultura de tubérculos. A remoção das árvores criou áreas sujeitas à saturação de águas superficiais, favorecendo a propagação de mosquitos portadores da malária. Os mais resistentes teriam sobrevivido.

Cita-se também o crescimento da espessura dos cabelos humanos operada em poucos milhares de anos em algumas zonas do globo. Pensa-se que a mudança está associada ao surgimento de uma preferência sexual por indivíduos de cabelo mais forte. Em algumas sociedades, o aparecimento dessa preferência terá acelerado essa mudança, e com uma rapidez muito maior do que a que seria de esperar da selecção biológica pura.

Para medir a influência da cultura na evolução há um instrumento decisivo: os modelos matemáticos. São os modelos matemáticos de co-evolução gene/cultura que permitem calcular as velocidades teóricas de propagação de traços genéticos em cenários diversos. Se apenas entrar em acção a aleatoriedade evolutiva, a velocidade de mudança é uma. Se houver uma selecção positiva influenciada pelas atitudes culturais, a velocidade de difusão dos novos traços é outra. Mais uma vez, é preciso fazer as contas. E as contas parecem mostrar que a cultura é um factor a ter em conta.

Nuno Crato

Tuesday, January 19, 2010

PS apoia Manuel Alegre?

Manuel Alegre foi o primeiro a anunciar que está na corrida às presidenciais, mas só Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda lhe vieram dar apoio, enquanto o PS oscila entre o "não é altura de falar das presidenciais" e o "lá vai ter de ser...". De qualquer das formas, já se percebeu que a candidatura de Alegre não agrada o PS, embora provavelmente o vá acabar por apoiar. E é normal que não agrade, pois, como escreveu Henrique Raposo ontem no Expresso, «bem vistas as coisas, o "socialismo democrático" do PS tem mais semelhanças com a "social-democracia" de Cavaco do que com o "radicalismo esquerdista" de Alegre e do Bloco».

Ontem, na RTP, António Vitorino acabou com as falinhas mansas do PS em relação a esta questão, dizendo o que ainda ninguém dentro do partido tinha dito, mas que já toda a gente sabia: «é possível que haja uma candidatura que derrote Cavaco Silva oriunda da esquerda, mas essa candidatura não pode confinar-se a ser uma candidatura de esquerda». E acrescentou algo óbvio sobre o discurso de Alegre, que só Louçã e a restante esquerda radical parecem não conseguir ver: «não é por se falar muito da pátria que se tem uma candidatura transversal ou que consegue ganhar votos no eleitorado que oscila entre PS e PSD». É por isto que se trata de pura demagogia quando Louçã apoia Alegre dizendo que é preciso uma candidatura forte de esquerda.

Saturday, January 16, 2010

Eclipse


Ontem foi visto nalgumas regiões do globo o eclipse anular do Sol mais longo do milénio. Este tipo de eclipse ocorre quando a Lua, ao passar em frente ao Sol, tem um diâmetro aparente ligeiramente mais pequeno que este, de tal forma que, a certa altura, o Sol fica com a forma de um anel. Aqui fica uma galeria de fotos e um video dedicados a este espantoso evento.

Thursday, January 14, 2010

Comentário ao último "Plano Inclinado"


Resolvi escrever este post dedicado ao último programa do Plano Inclinado essencialmente por dois motivos. Em primeiro lugar, penso que se tratou do melhor programa desta sessão de debates (acompanhado de muito perto do primeiro programa sobre Educação com a presença de Maria do Carmo Vieira). Todos os intervenientes, incluindo o brilhante Mário Crespo na moderação, estiveram muito bem neste debate onde discutiram o estado da Justiça com elevação e contribuindo com diversos exemplos bastante esclarecedores e que representam os principais problemas nesta área (lentidão, elevadas custas judiciais, juízes que não têm tanto controlo sobre os processos como deveriam ter e excessiva valorização da chamada "justiça processual").

Em segundo lugar, devo destacar a extraordinária participação do ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Rogério Alves. Penso que actualmente é o melhor a falar sobre Justiça na Comunicação Social, não só pela sua elevada capacidade intelectual que faz dele o profissional que é, mas também pela sua capacidade oratória notável, sendo assertivo e bastante esclarecedor mas sem o estilo arruaceiro de Marinho Pinto. Rogério Alves não é o típico comentador da escola do Prós e Contras que gosta de abordar os assuntos de forma muito genérica e com linguagem muito floreada, rematando sempre no final com os clichés do costume: "os portugueses têm capacidades notáveis mas não as aproveitam", ou "não podemos estar sempre a queixar da nossa classe política".

Felizmente, existe um programa aos sábados à noite na Sic Notícias onde nenhum dos intervenientes (convidados fora do painel inclusive) alinha pela bitola da vulgaridade. Caro leitor, se nunca viu o Plano Inclinado comece já no próximo sábado a corrigir esse erro e veja também no nosso blogue os programas anteriores.

Tuesday, January 12, 2010

"Política Poética"

O biólogo Richard Dawkins utiliza muitas vezes o termo "ciência poética" para caracterizar as metáforas que os cientistas utilizam para transmitir a ciência não só ao público em geral, mas também para que eles próprios a entendam melhor. No entanto, Dawkins distingue a "boa ciência poética" da "má ciência poética". A primeira acontece quando as metáforas e a linguagem poética oferecem uma maneira que de facto ajuda a tornar a ciência cativante e, simultaneamente, a ser mais facilmente percebida; a segunda encontra-se em autores cuja linguagem pretende ser bela e cativante, mas que muitas vezes não é nem uma coisa nem outra, para além de não constituir um benefício para entender a ciência.

Lembrei-me deste termo de Dawkins quando li a entrevista de Manuel Alegre ao Expresso, mas neste caso modificando a expressão original para "política poética". Porque a retórica e a forma de comunicar com o público são muito importantes em política, os políticos muitas vezes também utilizam linguagem mais poética para melhor explicar as suas motivações. No entanto, também aqui é possível separar a "boa política poética" da "má política poética". A forma como entendo uma e outra é análoga em relação à ciência. Aqui ficam dois exemplos: para mim, o primeiro é má política poética, e o segundo boa.

[Um Presidente da República] tem que pensar o impossível e ver o que não é visível.
Manuel Alegre

I want it said of me by those who knew me best that I always plucked a thistle and planted a flower where I thought a flower would grow.
Abraham Lincoln

Monday, January 11, 2010

Plano Inclinado - Justiça II

Plano Inclinado do passado Sábado, sobre a justiça, com Medina Carreira, João Duque, e o convidado Rogério Alves.


Sunday, January 10, 2010

"O Direito à Blasfémia", por Ferreira Fernandes

A propósito da "Lei da Difamação", implementada dia 1 de Janeiro de 2010 na Irlanda, que diz que quem pronunciar uma blasfémia - "uma expressão tremendamente abusiva ou insultuosa em relação a um assunto considerado sagrado por qualquer religião, causando indignação perante um número substancial de seguidores dessa religião" - arrisca-se a pagar uma multa que pode chegar aos 25 mil euros, Ferreira Fernandes escreveu este extraordinário artigo no Diário de Notícias de 5 de Janeiro.

As leis são para proteger os homens, não as ideias. Discutir (dizer alto) as ideias, as justas e as más, só tem feito bem aos homens. Foi pondo em causa a ideia de que os trovões eram ira dos deuses é que chegámos à ciência sobre os anticiclones e nos permitiu ver belas raparigas nos boletins meteorológicos. O mesmo sobre a capacidade de o homem voar: Leonardo da Vinci foi corrido como blasfemo pelos camponeses toscanos, mas graças à sua persistência, e de outros, em construir objectos voadores temos hoje as hospedeiras do ar. Certamente que há outros argumentos para defender as blasfémias, mas gosto dos argumentos que dei, lavam os olhos. Desde o primeiro dia do ano, é proibido, por lei, blasfemar na Irlanda: quem pecar paga 25 mil euros. Eu sei que há outros países em que posso ficar sem uma mão só por ter estendido um dedo àquela ideia que, sendo todo-poderosa (dizem-me), fica nervosíssima por eu lhe apontar o dedo. Mas nesses países é comum defender-se como justos os homens que fazem explodir as hospedeiras do ar. Já a Irlanda, pátria da Ryanair, põe mais aviões a blasfemar no ar do que os antiblasfemos das bombas são capazes de deitar abaixo. Daí o meu protesto por este atraso irlandês e a evocação daquela frase um dia escrita num muro lisboeta: "Se Deus existe, o problema é dele."

Saturday, January 9, 2010

"O Inverno do Regime Iraniano", por Miguel Monjardino

Destaque habitual para o artigo de Miguel Monjardino, publicado na edição do Expresso de 31 de Dezembro.

Os protestos nas principais cidades iranianas mostram que a intimidação, os julgamentos, a violência, a tortura, as violações nas prisões e os assassínios levados a cabo desde as eleições presidenciais de Junho não conseguiram o seu principal objectivo - desmoralizar e calar o crescente número de opositores ao regime de Teerão. Uma coisa é clara neste final de ano. O Irão será um dos grandes temas da política internacional ao longo de 2010. O ano que aí vem promete ser duro para os iranianos mas ninguém sabe para onde é que o país vai em termos internos e externos.

O domingo passado deu boas pistas para compreender a agenda das oposições e do regime. No final do luto pelo imã Hussein, morto pelas tropas do califa Yazid em 680, as pessoas que protestaram e enfrentaram a polícia e as milícias em Teerão não gritaram palavras de ordem contra o Presidente Mahmoud Ahmadinejad mas sim contra o líder supremo Ali Khamenei. As palavras de ordem usadas compararam Khamenei, a mais alta autoridade iraniana, ao odiado califa Yazid. No Irão esta comparação é explosiva do ponto de vista político e religioso. O seu uso mostra que, para uma parte importante da população mais jovem, o que está em causa já não é o resultado das presidenciais de Junho mas sim o regime fundado após a revolução de 1979. A resposta do regime neste dia carregado de simbolismo e emoção religiosa foi a violência, algo a que nem o Xá se atreveu na fase de maior contestação ao seu regime.

2009, o ano do trigésimo aniversário de uma das grandes revoluções do século XX, fica para a história como o ano em que Teerão perdeu a sua legitimidade interna. Estamos a assistir ao Inverno do regime iraniano. Num país em que dois terços da população tem menos de trinta anos, não é uma boa notícia para os governantes ver os estudantes e a população mais jovem a protestar determinadamente contra o regime. E também não é uma boa notícia ver um crescente número de autoridades religiosas associadas ao campo mais conservador em Qom distanciarem-se publicamente de Teerão. O que une os reformistas e os mais conservadores é a certeza de que Ali Khamenei passou a ser um peão dos Guardas Revolucionários e de que o Irão passou a ser uma ditadura.

No final do ano fico com duas dúvidas em relação ao Irão. A primeira é saber se o regime conseguirá sobreviver. A resposta mais provável é que sim, apesar de tudo. Ao matar uma série de manifestantes no domingo passado, o dia mais sagrado para os xiitas, o regime mandou um recado claro aos seus opositores. A facção que está no poder, está disposta a tudo para manter a sua riqueza, privilégios e influência política. O regime sobreviverá desde que o aparelho militar e as principais instituições do país não abandonem Ali Khamenei. Até agora não o fizeram. A chave serão os Guardas Revolucionários, uma força de 130 mil homens que controla importantes sectores do país e o impacto do programa de cortes orçamentais do Presidente Ahmadinejad junto da população mais pobre.

A segunda dúvida está relacionada com a conduta externa de Teerão. O Irão ambiciona ser uma potência regional no Médio Oriente, Golfo Pérsico e Ásia do Sul. Nos últimos anos, americanos e europeus - com o apoio dos países árabes sunitas e de Israel - viram nas sanções um instrumento político para conseguir uma mudança política interna no Irão. Como estamos a ver, a mudança aconteceu mas não na direcção pretendida. Em vez dos reformistas no poder ou próximo dele temos os Guardas Revolucionários. Em vez da prudência e do pragmatismo temos a paranóia e um sentimento de fraqueza e de cerco doméstico e externo em Teerão. O mais natural - mas também o mais perturbante - é que esta situação venha a ter uma influência substancial sobre a evolução do programa nuclear iraniano.

2009
É o ano em que Teerão perdeu a sua legitimidade interna. Estamos a assistir ao Inverno do regime iraniano, que só sobreviverá enquanto mantiver os Guardas Revolucionários. A grande dúvida é como é que o programa nuclear vai evoluir

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O modo como Robert M. Gates, Hillary Clinton e o general James L. Jones apoiaram o processo de decisão político-militar da Administração

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O défice e o desemprego estão a levar muitos americanos a perder a confiança em Barack Obama

China já é número 2
Tudo indica que, no final de 2009, a China já é a segunda maior economia mundial. O crescimento económico chinês esconde três coisas que vale a pena reter. A primeira é um PIB per capita ainda muito baixo - cerca de 3300 dólares em 2008. A segunda é o envelhecimento da sua população. O país tem cerca de 165 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Daqui a 20 anos terá 342 milhões - o equivalente à população dos EUA. A terceira são empréstimos bancários muito altos que ninguém sabe como têm sido usados.

Miguel Monjardino