Friday, January 29, 2010

"Para onde vai Barack Obama?", por Miguel Monjardino

Destaque habitual para o artigo de Miguel Monjardino, publicado na edição do Expresso de 23 de Janeiro (portanto, antes do discurso de Barack Obama no Congresso).


"Sinto a mudança no ar! E vocês?", perguntou Edward Kennedy no seu grande discurso de apoio a Barack Obama na American University, em Janeiro de 2008. A multidão delirou com a retórica política apaixonada do grande leão da esquerda americana em defesa de Obama.

Kennedy morreu em Agosto do ano passado mas o seu sucessor em Washington não será Martha Coakley, a candidata escolhida pelos democratas de Massachusetts. Scott Brown, um republicano desconhecido e com uma agenda política muito diferente daquela que Kennedy defendeu no discurso na American University, é o herdeiro de um dos lugares mais sagrados da política norte-americana.

Há factores locais que explicam esta enorme surpresa política. Nos últimos dias, a Casa Branca e a liderança dos democratas no Senado e na Câmara dos Representantes crucificaram Martha Coakley e a sua campanha incompetente e distraída. Em Washington, os democratas não estão interessados em que a eleição do Massachusetts também tenha uma leitura nacional sobre Barack Obama e as suas prioridades políticas. O problema é que tem. E muitas!

Quando um estado como o Massachusetts, onde os democratas e os independentes representam 80% do eleitorado, elege um republicano com a agenda de Scott Brown, é evidente que o Presidente tem um problema político no resto do país.

A vitória de Scott Brown mostra duas coisas preocupantes para Barack Obama e para os democratas que vão a eleições no Outono. A primeira é o colapso do apoio dos independentes e dos reformados. Os independentes tendem a ser centristas do ponto de vista político - brancos e trabalhadores com pouca educação universitária. Este bloco eleitoral apoiou Obama e os democratas de uma forma decisiva em 2008. A partir da Primavera deste ano, os independentes começaram a distanciar-se do Presidente.

Scott Brown só conseguiu ganhar com o apoio deles e dos reformados. A maioria dos dois grupos é frontalmente contra a reforma da Saúde de Obama. Ao contrário do que acontece em Portugal - um país em que as pessoas tendem a ter pouca confiança em si mesmas e adoram essa coisa misteriosa e protectora chamada 'Estado' -, os independentes americanos têm enormes suspeitas em relação ao excesso de poder e influência em Washington. Estes independentes estão claramente furiosos com Obama e com a liderança democrata no Congresso. A sua influência em estados como Colorado, Wisconsin, Florida e Ohio poderá causar problemas aos democratas nas eleições do Outono e à campanha de reeleição de Obama em 2012.

A vitória de Brown tornou mais clara a dificuldade do Presidente em estabelecer uma relação emocional com a classe média americana. Maureen Dowd, a colunista do "New York Times", tem chamado a atenção para este ponto.

Onde é que tudo isto deixa Barack Obama? O Presidente precisa de convencer a maioria dos americanos de que consegue realmente liderar e ajudar a resolver os seus problemas. Mas para o realizar precisa de fazer uma escolha difícil do ponto de vista político.

Obama ganhou a presidência prometendo duas coisas: profundas mudanças políticas que tanto entusiasmaram Edward Kennedy e a ala esquerda dos democratas e cooperação com os republicanos em Washington. O problema é que o big bang legislativo de Obama está a alienar uma parte importante da coligação que o elegeu, coloca em perigo político os democratas eleitos por distritos conservadores e é incompatível com as prioridades dos republicanos.

No início do seu segundo ano na Casa Branca, Barack Obama está entre a audácia e o pragmatismo. O discurso sobre o Estado da União na próxima quarta-feira promete ser muito interessante.

Miguel Monjardino

A estupidez não tem limites


Fui hoje almoçar fora com o meu pai ao restaurante habitual. Costumamos ser clientes mais ou menos assíduos há cerca de 10 anos. A comida que lá servem é quase sempre muito boa e raramente temos razões de queixa nesse aspecto. O homem que serve as pessoas à mesa é também dono do restaurante juntamente com os pais. São pessoas bastante simpáticas das quais nunca tivemos razões de queixa. No entanto o rapaz que nos costuma servir à mesa, por vezes costuma fazer uns comentários acerca das notícias que passam na televisão que me deixam estupefacto. Normalmente os alvos dos comentários são os mesmos que a extrema-esquerda (do punho cerrado à caviar) costuma fazer em matéria de política internacional, sempre com os EUA como os culpados de tudo o que acontece no Mundo. Mas hoje, acerca de uma notícia sobre o Haiti que passava na televisão, rebentou completamente com a escala da estupidez que eu pensava que terminava em Chavéz. A pérola foi a seguinte: "Eu não percebo o que é que estão lá a fazer 7000 e tal marines. Cá para mim eles não fazem nada e quanto mais gente morrer lá melhor para tornar aquilo diferente como eles querem." Eu não comentei devido ao estado de choque em que fiquei. Não sei se fiz bem, mas começo a achar que em muitas situações já não adianta combater sozinho contra alguns "moinhos de vento" da ignorância.

Thursday, January 28, 2010

Em que é que ficamos?!


Público
Saúde e empregos são as grandes prioridades de Obama
O Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, prometeu ontem continuar a lutar pela reforma do funcionamento do sistema de saúde e instou os dois partidos no Congresso a ultrapassar as suas divisões e aprovar a nova legislação que garantirá o acesso a cuidados médicos a mais de trinta milhões de pessoas actualmente fora do sistema.
[Em seguida, o Público dedica quatro parágrafos às palavras de Obama sobre a reforma do sistema de saúde]
Expresso
Barack Obama quer mais emprego
Presidente Barack Obama proferiu ontem o discurso do Estado da União, revelando uma mudança de estilo. A prioridade passa a ser o emprego e a economia. Outros assuntos, como a reforma do sistema de Saúde, podem esperar.
[No artigo do Expresso, a reforma do sistema de saúde apenas é referida para dizer que Obama apenas lhe dedicou 2 minutos em hora e meia de discurso]

Wednesday, January 27, 2010

Auschwitz - 65 anos depois


Foi há 65 anos que as tropas aliadas libertaram os 7500 prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, pondo fim à principal máquina de extermínio que operou durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo reza a História morreram em Auschwitz cerca de 1 milhão de judeus, 70000 intelectuais polacos e prisioneiros de guerra soviéticos e 19000 ciganos. Existem também algumas estimativas que apontam para cerca de 1.5 milhões de mortos.

Importa hoje, tal como sempre, lembrar às gerações actuais e futuras que existiram episódios na História da Humanidade que nos mancham de vergonha para sempre. Não só em respeito pela memória dos milhões de seres humanos que perderam barbaramente a sua vida em Auschwitz, mas também para que jamais esses tempos se voltem a repetir, importa condenar e lembrar uma das páginas mais negras da História. Como disse Gilbert Chesterton: Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Os milagres são possíveis?


Os cientistas e os artistas tendem a ver a ciência e a arte de formas radicalmente diferentes. Se, por um lado, como já aqui defendi, não me identifico com a forma como muitos artistas olham para a ciência, a verdade é que, por outro, também não sou apologista da forma como alguns cientistas vêem a arte.

O caso que me é mais próximo é o do cinema. Por exemplo, já várias vezes tive oportunidade de ler críticas por parte de cientistas ao facto de muitos filmes defenderem a superstição em vez da razão, pois dessa forma incita-se as pessoas a serem crédulas, ao invés de aprenderem a lidar com os princípios do cepticismo e do método científico.

Os cientistas orgulham-se - e com razão - de terem a capacidade de, quando entram no laboratório, colocarem de lado as suas crenças, para não se iludirem no seu trabalho de investigação. No entanto, penso que deveriam ter essa mesma capacidade quando, por exemplo, entram numa sala de cinema. Vejamos alguns exemplos em que, na minha opinião, essa capacidade é importante.

Quando, no final do filme Sinais, de M. Night Shyamalan, Mel Gibson (um pastor que perdera toda a sua fé quando a mulher morreu num acidente) recupera as suas crenças mais profundas ao aperceber-se de que as coincidências não existem, para finalmente voltar a dar um sentido à sua vida, pouco me importa que, na verdade, as coincidências não sejam obra do destino, mas obedeçam às leis matemáticas das probabilidades. O poder daquelas imagens, e sobretudo dessa extraordinária sequência final, torna irrelevante o que as coincidências são no nosso próprio mundo. No(s) mundo(s) de Shyamalan, devido à honestidade e à inocência do olhar sobre a fé, assim como à complexidade dos medos que assolam as suas personagens, os milagres são possíveis.

O que é impossível é falar em milagres e em cinema sem pensar em Ordet (na imagem), do dinamarquês Carl Dreyer. No final do filme, para espanto de todos, quando o "maluquinho" da família pede com verdadeira fé à personagem Inga, que morrera a dar à luz, que volte à vida, acontece um milagre. Nesse momento, pouco importa que, de volta à realidade do nosso mundo, eu esteja bem consciente de que não temos conhecimento de que algum milagre tenha de facto acontecido. No nosso mundo não há milagres, mas este dado em nada limita o poder daquele momento; pelo contrário, apenas contribui para o acentuar. Não admira que João Bénard da Costa afirme que viu "um milagre acontecer em Ordet", e "se me disserem que é cinema eu respondo que não é, não". Em Dreyer, os milagres fazem-nos acreditar.

Quando vejo Shyamalan, Dreyer e outros realizadores em que o tema da fé predomina com imagens tão comoventes e poderosas, sou profundamente crente. Claro que, fora da sala de cinema, a conversa é outra.

Tuesday, January 26, 2010

Plano Inclinado - Défice, Investimento e Educação

Plano Inclinado do passado sábado, com os comentadores usuais. Os temas são o défice, o investimento e a educação.


Saturday, January 23, 2010

Sem Comentários

Chávez acusa EUA de provocar sismo no Haiti

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, assegurou que foram os EUA que provocaram o sismo no Haiti. “É um resultado claro de uma prova da marinha norte-americana”, disse, sublinhando que “o terramoto experimental dos EUA devastou o país”. A notícia, com base num comunicado de imprensa enviado pelo governo venezuelano, foi avançada pela televisão estatal Vive e afirma que os “EUA já andavam a monitorizar os movimentos e as actividades navais naquela zona desde 2008”.

Segundo Caracas e Moscovo, “o resultado final das experiências faz parte do plano de destruição norte-americano para o Irão, que consiste numa série de terramotos planeados para destruir o actual regime islâmico”.

Lido no i.

Linguagem e Preconceitos

Quando li The Blank Slate, de Steven Pinker, um dos capítulos que achei mais interessantes era dedicado à linguagem. Numa secção desse capítulo, o autor aborda a necessidade que a sociedade tem em mudar constantemente os nomes das coisas contra as quais existem preconceitos. Mas, bem vistas as coisas, isto em nada contribui para diminuir preconceitos, pois, como é evidente, o preconceito não está contra o nome, mas - como a própria palavra indica - contra o próprio conceito.

São vários os exemplos em que isto acontece na nossa sociedade. Um dos mais típicos é a insistência de certas pessoas em proibir que se diga "cidadão americano" ou "norte-americano", para se passar a dizer "estado-unidense", pois estão de alguma forma convencidas de que dizê-lo revela um desrepeito pelos restantes países do continente Americano, e que a expressão só é comum devido à mania dos Estados Unidos de que são poderosos e ao desejo que têm em inferiorizar os outros (?!). No entanto, há casos mais espantosos, e um relato de Pinker permite que nos apercebamos onde por vezes chega esta moda inconsequente, cujo único objectivo é ser politicamente correcta:

Even the word minority — the most neutral label conceivable, referring only to relative numbers — was banned in 2001 by the San Diego City Council (and nearly banned by the Boston City Council) because it was deemed disparaging to non-whites. “No matter how you slice it, minority means less than,” said a semantically challenged official at Boston College, where the preferred term is AHANA (an acronym for African-American, Hispanic, Asian, and Native American).

O autor conclui então com um acertadíssimo comentário pessoal, cuja frase final me parece particularmente relevante. Afinal, como saber que determinado preconceito está a desaparecer?

(...) concepts, not words, are primary in people's minds. Give a concept a new name, and the name becomes colored by the concept; the concept does not become freshened by the name, at least not for long. Names for minorities will continue to change as long as people have negative attitudes toward them. We will know that we have achieved mutual respect when the names stay put.

Friday, January 22, 2010

Era Uma Vez na América


Um dos melhores filmes da história do Cinema dá nome a um recente blog de Nuno Gouveia e José Gomes André sobre os Estados Unidos da América. Recomendamos aos leitores interessados na política desse país que passem por lá.

Wednesday, January 20, 2010

"Selecção Natural", por Nuno Crato

Destaque habitual para o artigo que Nuno Crato escreve semanalmente no blogue do Expresso Passeio Aleatório, também publicado na edição de imprensa de 16 de Janeiro.

Os evolucionistas admitem há muito que a selecção natural foi influenciada por alterações do meio ambiente. Admitem, por exemplo, que as alterações climáticas teriam transformado as florestas onde os nossos antepassados remotos viviam, criando savanas. Questionam se essa transformação não teria acelerado a adopção de uma postura erecta, com todas as correlativas transformações do crânio e do cérebro que nos tornaram o que hoje somos.

Mais recentemente, começaram a discutir se, além dessa influência, não haveria uma outra, a da própria sociedade humana, que poderia ter acelerado as mudanças genéticas. Há algumas décadas, a simples colocação do problema teria enfurecido muitos dos que denunciavam, com razão, extrapolações evolucionistas para teorias e práticas deploráveis, de que é exemplo a eugenia. Esta última, criada pelo naturalista inglês Francis Galton, primo de Charles Darwin, preconizava que se acelerasse a evolução fomentando a procriação dos mais aptos. Na reacção à eugenia, além de argumentos morais decisivos, estava subjacente a ideia de que a selecção é um processo muito lento, com um horizonte temporal de centenas de milhares de anos, e que o desenvolvimento das sociedades humanas teria secundarizado os factores da evolução biológica. A cultura teria tomado conta do palco.

Segundo discutem hoje os evolucionistas, a cultura terá mesmo tomado o palco, mas também na selecção natural. A alteração genética, sempre em acção, mesmo nos nossos dias, terá sido influenciada e acelerada pelas nossas atitudes culturais, ou seja, pelos comportamentos transmitidos por ensino directo, pela imitação e por outras formas de interacção social. Um exemplo dessa influência é a decorrente da introdução do pastoreio nas sociedades pré-históricas. Várias investigações têm mostrado que o pastoreio e a pecuária favoreceram uma evolução biológica positiva de tolerância ao leite nos adultos.

Outro exemplo muito estudado é o da rápida mudança genética de algumas populações da África Ocidental, que aumentaram a resistência à malária. Acredita-se que essa mudança deriva da devastação de florestas pela introdução da agricultura de tubérculos. A remoção das árvores criou áreas sujeitas à saturação de águas superficiais, favorecendo a propagação de mosquitos portadores da malária. Os mais resistentes teriam sobrevivido.

Cita-se também o crescimento da espessura dos cabelos humanos operada em poucos milhares de anos em algumas zonas do globo. Pensa-se que a mudança está associada ao surgimento de uma preferência sexual por indivíduos de cabelo mais forte. Em algumas sociedades, o aparecimento dessa preferência terá acelerado essa mudança, e com uma rapidez muito maior do que a que seria de esperar da selecção biológica pura.

Para medir a influência da cultura na evolução há um instrumento decisivo: os modelos matemáticos. São os modelos matemáticos de co-evolução gene/cultura que permitem calcular as velocidades teóricas de propagação de traços genéticos em cenários diversos. Se apenas entrar em acção a aleatoriedade evolutiva, a velocidade de mudança é uma. Se houver uma selecção positiva influenciada pelas atitudes culturais, a velocidade de difusão dos novos traços é outra. Mais uma vez, é preciso fazer as contas. E as contas parecem mostrar que a cultura é um factor a ter em conta.

Nuno Crato

Tuesday, January 19, 2010

PS apoia Manuel Alegre?

Manuel Alegre foi o primeiro a anunciar que está na corrida às presidenciais, mas só Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda lhe vieram dar apoio, enquanto o PS oscila entre o "não é altura de falar das presidenciais" e o "lá vai ter de ser...". De qualquer das formas, já se percebeu que a candidatura de Alegre não agrada o PS, embora provavelmente o vá acabar por apoiar. E é normal que não agrade, pois, como escreveu Henrique Raposo ontem no Expresso, «bem vistas as coisas, o "socialismo democrático" do PS tem mais semelhanças com a "social-democracia" de Cavaco do que com o "radicalismo esquerdista" de Alegre e do Bloco».

Ontem, na RTP, António Vitorino acabou com as falinhas mansas do PS em relação a esta questão, dizendo o que ainda ninguém dentro do partido tinha dito, mas que já toda a gente sabia: «é possível que haja uma candidatura que derrote Cavaco Silva oriunda da esquerda, mas essa candidatura não pode confinar-se a ser uma candidatura de esquerda». E acrescentou algo óbvio sobre o discurso de Alegre, que só Louçã e a restante esquerda radical parecem não conseguir ver: «não é por se falar muito da pátria que se tem uma candidatura transversal ou que consegue ganhar votos no eleitorado que oscila entre PS e PSD». É por isto que se trata de pura demagogia quando Louçã apoia Alegre dizendo que é preciso uma candidatura forte de esquerda.

Saturday, January 16, 2010

Eclipse


Ontem foi visto nalgumas regiões do globo o eclipse anular do Sol mais longo do milénio. Este tipo de eclipse ocorre quando a Lua, ao passar em frente ao Sol, tem um diâmetro aparente ligeiramente mais pequeno que este, de tal forma que, a certa altura, o Sol fica com a forma de um anel. Aqui fica uma galeria de fotos e um video dedicados a este espantoso evento.

Thursday, January 14, 2010

Comentário ao último "Plano Inclinado"


Resolvi escrever este post dedicado ao último programa do Plano Inclinado essencialmente por dois motivos. Em primeiro lugar, penso que se tratou do melhor programa desta sessão de debates (acompanhado de muito perto do primeiro programa sobre Educação com a presença de Maria do Carmo Vieira). Todos os intervenientes, incluindo o brilhante Mário Crespo na moderação, estiveram muito bem neste debate onde discutiram o estado da Justiça com elevação e contribuindo com diversos exemplos bastante esclarecedores e que representam os principais problemas nesta área (lentidão, elevadas custas judiciais, juízes que não têm tanto controlo sobre os processos como deveriam ter e excessiva valorização da chamada "justiça processual").

Em segundo lugar, devo destacar a extraordinária participação do ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Rogério Alves. Penso que actualmente é o melhor a falar sobre Justiça na Comunicação Social, não só pela sua elevada capacidade intelectual que faz dele o profissional que é, mas também pela sua capacidade oratória notável, sendo assertivo e bastante esclarecedor mas sem o estilo arruaceiro de Marinho Pinto. Rogério Alves não é o típico comentador da escola do Prós e Contras que gosta de abordar os assuntos de forma muito genérica e com linguagem muito floreada, rematando sempre no final com os clichés do costume: "os portugueses têm capacidades notáveis mas não as aproveitam", ou "não podemos estar sempre a queixar da nossa classe política".

Felizmente, existe um programa aos sábados à noite na Sic Notícias onde nenhum dos intervenientes (convidados fora do painel inclusive) alinha pela bitola da vulgaridade. Caro leitor, se nunca viu o Plano Inclinado comece já no próximo sábado a corrigir esse erro e veja também no nosso blogue os programas anteriores.

Tuesday, January 12, 2010

"Política Poética"

O biólogo Richard Dawkins utiliza muitas vezes o termo "ciência poética" para caracterizar as metáforas que os cientistas utilizam para transmitir a ciência não só ao público em geral, mas também para que eles próprios a entendam melhor. No entanto, Dawkins distingue a "boa ciência poética" da "má ciência poética". A primeira acontece quando as metáforas e a linguagem poética oferecem uma maneira que de facto ajuda a tornar a ciência cativante e, simultaneamente, a ser mais facilmente percebida; a segunda encontra-se em autores cuja linguagem pretende ser bela e cativante, mas que muitas vezes não é nem uma coisa nem outra, para além de não constituir um benefício para entender a ciência.

Lembrei-me deste termo de Dawkins quando li a entrevista de Manuel Alegre ao Expresso, mas neste caso modificando a expressão original para "política poética". Porque a retórica e a forma de comunicar com o público são muito importantes em política, os políticos muitas vezes também utilizam linguagem mais poética para melhor explicar as suas motivações. No entanto, também aqui é possível separar a "boa política poética" da "má política poética". A forma como entendo uma e outra é análoga em relação à ciência. Aqui ficam dois exemplos: para mim, o primeiro é má política poética, e o segundo boa.

[Um Presidente da República] tem que pensar o impossível e ver o que não é visível.
Manuel Alegre

I want it said of me by those who knew me best that I always plucked a thistle and planted a flower where I thought a flower would grow.
Abraham Lincoln

Monday, January 11, 2010

Plano Inclinado - Justiça II

Plano Inclinado do passado Sábado, sobre a justiça, com Medina Carreira, João Duque, e o convidado Rogério Alves.


Sunday, January 10, 2010

"O Direito à Blasfémia", por Ferreira Fernandes

A propósito da "Lei da Difamação", implementada dia 1 de Janeiro de 2010 na Irlanda, que diz que quem pronunciar uma blasfémia - "uma expressão tremendamente abusiva ou insultuosa em relação a um assunto considerado sagrado por qualquer religião, causando indignação perante um número substancial de seguidores dessa religião" - arrisca-se a pagar uma multa que pode chegar aos 25 mil euros, Ferreira Fernandes escreveu este extraordinário artigo no Diário de Notícias de 5 de Janeiro.

As leis são para proteger os homens, não as ideias. Discutir (dizer alto) as ideias, as justas e as más, só tem feito bem aos homens. Foi pondo em causa a ideia de que os trovões eram ira dos deuses é que chegámos à ciência sobre os anticiclones e nos permitiu ver belas raparigas nos boletins meteorológicos. O mesmo sobre a capacidade de o homem voar: Leonardo da Vinci foi corrido como blasfemo pelos camponeses toscanos, mas graças à sua persistência, e de outros, em construir objectos voadores temos hoje as hospedeiras do ar. Certamente que há outros argumentos para defender as blasfémias, mas gosto dos argumentos que dei, lavam os olhos. Desde o primeiro dia do ano, é proibido, por lei, blasfemar na Irlanda: quem pecar paga 25 mil euros. Eu sei que há outros países em que posso ficar sem uma mão só por ter estendido um dedo àquela ideia que, sendo todo-poderosa (dizem-me), fica nervosíssima por eu lhe apontar o dedo. Mas nesses países é comum defender-se como justos os homens que fazem explodir as hospedeiras do ar. Já a Irlanda, pátria da Ryanair, põe mais aviões a blasfemar no ar do que os antiblasfemos das bombas são capazes de deitar abaixo. Daí o meu protesto por este atraso irlandês e a evocação daquela frase um dia escrita num muro lisboeta: "Se Deus existe, o problema é dele."

Saturday, January 9, 2010

"O Inverno do Regime Iraniano", por Miguel Monjardino

Destaque habitual para o artigo de Miguel Monjardino, publicado na edição do Expresso de 31 de Dezembro.

Os protestos nas principais cidades iranianas mostram que a intimidação, os julgamentos, a violência, a tortura, as violações nas prisões e os assassínios levados a cabo desde as eleições presidenciais de Junho não conseguiram o seu principal objectivo - desmoralizar e calar o crescente número de opositores ao regime de Teerão. Uma coisa é clara neste final de ano. O Irão será um dos grandes temas da política internacional ao longo de 2010. O ano que aí vem promete ser duro para os iranianos mas ninguém sabe para onde é que o país vai em termos internos e externos.

O domingo passado deu boas pistas para compreender a agenda das oposições e do regime. No final do luto pelo imã Hussein, morto pelas tropas do califa Yazid em 680, as pessoas que protestaram e enfrentaram a polícia e as milícias em Teerão não gritaram palavras de ordem contra o Presidente Mahmoud Ahmadinejad mas sim contra o líder supremo Ali Khamenei. As palavras de ordem usadas compararam Khamenei, a mais alta autoridade iraniana, ao odiado califa Yazid. No Irão esta comparação é explosiva do ponto de vista político e religioso. O seu uso mostra que, para uma parte importante da população mais jovem, o que está em causa já não é o resultado das presidenciais de Junho mas sim o regime fundado após a revolução de 1979. A resposta do regime neste dia carregado de simbolismo e emoção religiosa foi a violência, algo a que nem o Xá se atreveu na fase de maior contestação ao seu regime.

2009, o ano do trigésimo aniversário de uma das grandes revoluções do século XX, fica para a história como o ano em que Teerão perdeu a sua legitimidade interna. Estamos a assistir ao Inverno do regime iraniano. Num país em que dois terços da população tem menos de trinta anos, não é uma boa notícia para os governantes ver os estudantes e a população mais jovem a protestar determinadamente contra o regime. E também não é uma boa notícia ver um crescente número de autoridades religiosas associadas ao campo mais conservador em Qom distanciarem-se publicamente de Teerão. O que une os reformistas e os mais conservadores é a certeza de que Ali Khamenei passou a ser um peão dos Guardas Revolucionários e de que o Irão passou a ser uma ditadura.

No final do ano fico com duas dúvidas em relação ao Irão. A primeira é saber se o regime conseguirá sobreviver. A resposta mais provável é que sim, apesar de tudo. Ao matar uma série de manifestantes no domingo passado, o dia mais sagrado para os xiitas, o regime mandou um recado claro aos seus opositores. A facção que está no poder, está disposta a tudo para manter a sua riqueza, privilégios e influência política. O regime sobreviverá desde que o aparelho militar e as principais instituições do país não abandonem Ali Khamenei. Até agora não o fizeram. A chave serão os Guardas Revolucionários, uma força de 130 mil homens que controla importantes sectores do país e o impacto do programa de cortes orçamentais do Presidente Ahmadinejad junto da população mais pobre.

A segunda dúvida está relacionada com a conduta externa de Teerão. O Irão ambiciona ser uma potência regional no Médio Oriente, Golfo Pérsico e Ásia do Sul. Nos últimos anos, americanos e europeus - com o apoio dos países árabes sunitas e de Israel - viram nas sanções um instrumento político para conseguir uma mudança política interna no Irão. Como estamos a ver, a mudança aconteceu mas não na direcção pretendida. Em vez dos reformistas no poder ou próximo dele temos os Guardas Revolucionários. Em vez da prudência e do pragmatismo temos a paranóia e um sentimento de fraqueza e de cerco doméstico e externo em Teerão. O mais natural - mas também o mais perturbante - é que esta situação venha a ter uma influência substancial sobre a evolução do programa nuclear iraniano.

2009
É o ano em que Teerão perdeu a sua legitimidade interna. Estamos a assistir ao Inverno do regime iraniano, que só sobreviverá enquanto mantiver os Guardas Revolucionários. A grande dúvida é como é que o programa nuclear vai evoluir

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O modo como Robert M. Gates, Hillary Clinton e o general James L. Jones apoiaram o processo de decisão político-militar da Administração

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O défice e o desemprego estão a levar muitos americanos a perder a confiança em Barack Obama

China já é número 2
Tudo indica que, no final de 2009, a China já é a segunda maior economia mundial. O crescimento económico chinês esconde três coisas que vale a pena reter. A primeira é um PIB per capita ainda muito baixo - cerca de 3300 dólares em 2008. A segunda é o envelhecimento da sua população. O país tem cerca de 165 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Daqui a 20 anos terá 342 milhões - o equivalente à população dos EUA. A terceira são empréstimos bancários muito altos que ninguém sabe como têm sido usados.

Miguel Monjardino

Friday, January 8, 2010

Grapes of Wrath


Grapes of Wrath, de John Ford (adaptação cinematográfica do livro de John Steinbeck), é um filme sublime e o melhor que vi deste realizador. Em plena Grande Depressão, camponeses do interior dos Estados Unidos são expulsos das suas terras e rumam para Ocidente, sem dinheiro e sem comida, à procura de empregos inexistentes. Com uma mensagem que se identifica com uma visão política claramente de esquerda, existe uma questão interessante que se pode colocar ao ver o filme (isto para além do interesse óbvio de se estar a ver um dos melhores filmes de sempre). O que é que pode ter motivado John Ford, um grande conservador e tudo menos revolucionário, a filmar uma história deste género com a paixão com que o faz?

Sabendo isto sobre Ford, é fácil concluir que objectivos planfetários de servir certas visões políticas não foi certamente o que motivou. Na verdade, nem era preciso conhecer a sua visão política para se saber perceber que o que se está a ver se encontra no extremo oposto daquilo que se pode classificar como planfetário. Isto porque o que se vê na tela não são ícones que representam a luta do povo, mas um conjunto de seres humanos, cada um possuidor da sua própria individualidade, e que juntos constituem a família que o filme segue.

É possível arranjar uma lista quase infindável de razões que justificam esta visão sobretudo humana e não política. Note-se, por exemplo, no reencontro de Tom Joad com a mãe quando este regressa da prisão passado quatro anos, em que o distanciamento emotivo do cumprimento se opõe à profundidade do sentimento que existe naquela relação. Ou na morte dos mais frágeis e idosos e no desespero por dinheiro e por comida que vai contribuindo para a progressiva desconstrução da unidade familiar. Ou na despedida de Tom Joad da mãe, quando este tem de abandonar os seus para os proteger e lutar por aquilo que considera justo: quando finalmente se afasta, aquele portento de força que é a figura da mãe, que carrega a família às costas, torna-se de repente assustadoramente frágil naquele plano absolutamente genial em que Ford a filma à distância a ver o filho partir, onde pouco mais se consegue distinguir para além das lágrimas que brilham na escuridão envolvente da noite.

É esta visão de Ford ao longo de 2h10 perante cada indivíduo e a unidade familiar que constituem que faz com que, no final, quando essa extraordinária actriz que é Jane Darwell exclama "we'll go on forever, 'cause we're the people", não exista aí nada de minimamente planfetário ou que seja de alguma forma gratuito. Porque mais do que o grito de um povo, o que nós – espectadores – vemos nessa exclamação é, acima de tudo, o grito de uma pessoa dotada da sua própria individualidade.

No entanto, esta não era a minha questão inicial. Penso já ter tornado claro porque é o que filme não é, nem nunca poderia ser, planfetário, mas isto não justifica totalmente o interesse de Ford numa história com implicações políticas com as quais, à partida, não se identificaria. Para o explicar, deixo as palavras de João Bénard da Costa, que nos recorda que existe uma diferença fundamental entre identificação política e identificação moral:

O milagre das Vinhas da Ira, como o de Young Mr. Lincoln do mesmo Ford e com o mesmo Fonda, no ano anterior, tem a explicação numa convicção que não é "colada" por imposições propagandísticas, mas provém duma certeza de nível muito mais profundo. Ford não "cantou" Lincoln ou a família Joad para servir os interesses duma política (embora seja outra questão saber se efectivamente as serviu) mas porque moralmente o seu credo se identificava totalmente com as ideias expressas nessas duas obras. São filmes sem dúvidas nem manhas – actos de fé e esperança – filmes de um crente que nenhuma dúvida, oportunismo ou servilismo, atravessa. Realizador e "mensagem" identificam-se plenamente e, por isso, o olhar é tão límpido, a beleza tamanha e a força tão pura.

Nota: os sublinhados no excerto citado estão no original.

Dificuldades com os Grandes Números


No post que escrevi recentemente sobre segurança aérea, falei superficialmente da nossa dificuldade em termos noção dos números muito grandes e dos muito pequenos. Essa dificuldade matemática tem implicações na forma como olhamos para a ciência. Quando lidamos com intervalos de tempo ou com distâncias espaciais muito grandes (isto também se aplica às distâncias muito pequenas do mundo atómico, mas neste post não falarei disso), temos dificuldade em perceber o significado da ordem de grandeza de que estamos a falar, por estarmos demasiado habituados à nossa vida na Terra: uma vida humana dura tipicamente menos de um século e o nosso planeta tem um raio de pouco mais de 6 mil km. Em comparação, falar em milénios ou anos-luz não significa nada para a nossa intuição - sabemos que é muito, mas não temos uma verdadeira percepção de quanto é.

Para dar um exemplo das implicações que esta nossa dificuldade pode ter, no seu famoso livro Cosmos, Carl Sagan defende que a resistência de muitas pessoas à evolução de Darwin está, em parte, relacionada com o facto de não conseguirmos ter uma noção real da lentidão da evolução das espécies ao longo das eras geológicas. E depois comenta assim, desta forma tão acertada quanto bela: "O que significam 70 milhões de anos para criaturas que vivem um milionésimo desse tempo? Nós somos quais borboletas, esvoaçam um dia e pensam que é para sempre".

Como ultrapassar, então, essa dificuldade? Uma forma útil é pensarmos em proporções, isto é, de que maneira se relacionam esses números com os números que nos são mais familiares. Richard Dawkins tem uma proposta interessante no seu livro Unweaving the Rainbow. Imaginemos livros de 500 páginas em que cada página é dedicada a um ano, e comecemos a empilhar livros. Distâncias temporais como 2000 anos, que nos parece muito tempo, não se situam muito acima do chão nesta nossa hipotética pilha: "Se queremos ler, por exemplo, sobre Jesus, temos de escolher o volume que está 20cm acima do chão, ou logo acima do tornozelo". Quanto à descoberta do fogo, seria necessário "subir a um nível um pouco superior à Estátua da Liberdade". Para ler sobre "os australopitecos (...) teria de subir a um ponto mais alto do que qualquer edifício de Chicago". A origem da vida estaria relatada num livro que teriamos que colocar a aproximadamente 500km de altura.

No fabuloso video que se encontra abaixo, tenta-se dar uma noção do tamanho dos planetas do Sistema Solar comparando-os em proporção. Depois, comparam-se com o Sol e com outras estrelas da Via Láctea (recomendo que se faça duplo clique sobre o video para ser visto em tamanho maior e em HD no YouTube). O problema é que, a partir de certo momento, mesmo estas analogias deixam de fazer sentido, e a própria proporção já não nos dá uma verdadeira noção das distâncias temporais ou espaciais. Como comparar o tamanho da Terra ao da última estrela do video, a hiper-gigante vermelha VY Canis Majoris? E, mesmo assim, esta comparação não é nada se pensarmos nas aterradoras distâncias do espaço vazio que separam as estrelas.

Thursday, January 7, 2010

Galileo e as Luas de Júpiter


Há precisamente 400 anos, Galileu Galilei observou pela primeira vez as quatro maiores luas de Júpiter. São elas: Io, Europa, Ganymede e Callisto. Na altura, Galileu observou-as através do seu telescópio; actualmente, podemos vê-las com um par de modestos binóculos. A propósito da efeméride, Carlos Fiolhais escreveu o seguinte para o Jornal de Notícias:

A 7 de Janeiro de 1610, Galileu viu, com o seu telescópio, algo que até aí tinha permanecido invisível: os quatro satélites mais próximos de Júpiter. Os pequenos pontos luminosos moviam-se claramente em torno do planeta, mostrando que a Terra não era, nos céus, um centro único. Copérnico começava a ganhar a Ptolomeu e a nossa visão do mundo nunca mais voltou a ser a mesma. O instrumento novo proporcionava conhecimento novo...

Muitas descobertas se têm feito à imagem e semelhança da de Galileu: os instrumentos da ciência ampliam tanto a nossa vista como a nossa mente. Ontem como hoje, a nossa curiosidade leva-nos a ver mais do que vemos e, portanto, a saber mais do que sabemos. Quatro séculos depois de Galileu, os mais modernos observatórios e laboratórios permitem-nos continuar a ver o invisível. E há mais invisível para ver...

Wednesday, January 6, 2010

Segurança Aérea


No excelente blog Good Math, Bad Math, o autor Mark Chu-Carroll colocou recentemente um artigo bastante esclarecedor sobre o perigo real que é morrer devido a um atentato terrorista num avião. O medo generalizado que existe de viajar de avião quando comparado com a sua segurança é um dado preocupante. Significa que algo está a ser mal feito na divulgação às pessoas sobre a segurança deste meio de transporte e que existe uma total falta de compreensão de estatística e de probabilidades. Na verdade, não é preciso ser-se um génio de nenhuma destas áreas para se compreender que esta probabilidade é extremamente baixa (embora talvez seja difícil termos noção do quão baixa é, porque simplesmente não temos intuição para os números muito grandes e os muito pequenos), e é isso que Mark-CC mostra neste texto com algumas contas bastante grosseiras, mas que não não precisam de uma maior exactidão para termos as noções mínimas exigidas. Nos últimos parágrafos, diz o seguinte:

According to the FAA, there were about 37,000 commercial flights per day in 2008 - for a total of over 13 million commercial flights per year. And that's a dramatic decrease compared to a few years earlier, before high fuel prices drove many airlines out of business, and forced others to reduce their schedules.

All of us who live in metropolitan areas see ton of airplanes taking off and landing every day. But we've got absolutely no intuitive understanding of just what that actually means. I constantly rant about how piss-poor we are at understanding scale, but I was seriously surprised by the number of flights per day around NYC. Once we get beyond numbers that we can easily count to, our intuitions about numbers are just a total disaster. We just don't really understand scale; we don't understand how big numbers add up.

And on the topic of airport security: put the numbers into context, and you'll realize that all of the panic over terrorism on airplanes is really amazingly overblown. The chances of being hurt by someone who got past airport security, even without things like the full-body scanners being deployed after this latest panic, are smaller than dying in your dentist's office from an anaesthesia error. And how often does anyone worry about that?

Existe de facto um exagero generalizado em relação a esta questão da segurança aérea (embora, como é evidente, todas as medidas adicionais sejam bem-vindas para que a probabilidade de desastre se reduza ainda mais), e penso que a comunicação social tem bastante culpa nisso, aproveitando eficazmente os momentos em que as pessoas estão mais fragilizadas devido a algum desastre aéreo recente para noticiar com escândalo qualquer problema técnico que exista num avião. Basta lembrar as semanas seguintes à queda do A330 da Air France: não havia dia em que não houvesse um avião com problemas técnicos ou a aterrar de emergência. Agora que já passaram vários meses, e lendo jornais diariamente, parece que já não há falhas técnicas em vôo... No entanto, os problemas de terrorismo já foram pelo menos 3 desde a véspera de Natal...

Monday, January 4, 2010

on the shoulders of giants


Passam hoje 367 anos do nascimento de Isaac Newton (1643-1727), o cientista inglês que, embora seja mais conhecido pela Lei da Gravitação Universal (a imagem de hoje do Google é uma maçã a cair, em alusão ao famoso episódio), contribuiu ainda para o desenvolvimento do cálculo, explicou muitos assuntos relacionados com a óptica (por exemplo a refracção da luz, e consequentemente o arco-íris) e com a mecânica, através das 3 Leis da Dinâmica de Newton.

Newton não tinha uma personalidade fácil e simpática, envolvendo-se frequentemente em disputas com outros cientistas. No entanto, a humildade que sentia perante a ciência era tal que, perto do fim da sua vida, afirmou:

I do not know what I may appear to the world, but to myself I seem to have been only like a boy playing on the sea-shore, and diverting myself in now and then finding a smoother pebble or a prettier shell than ordinary, whilst the great ocean of truth lay all undiscovered before me.

Para além disso, é também o autor da famosa frase: "If I have seen further it is only by standing on the shoulders of giants". Numa altura em que estão muito em voga teorias educativas que dizem que o conhecimento não deve ser imposto pois não passa de uma opinião com a validade de qualquer outra, ou que o professor deve ter uma função quase de mero vigilante enquanto o aluno descobre tudo por si para que não interfira no seu processo de descoberta, é importante recordar esta frase de Newton. Afinal, só há uma maneira das gerações mais velhas garantirem que as mais novas chegam mais longe do que elas chegaram: transmitindo-lhes tudo o que sabem. Que é como quem diz, colocando-as aos seus ombros.

Friday, January 1, 2010

'Copenada', por Miguel Monjardino

Destaque habitual para o artigo de Miguel Monjardino, publicado na edição do Expresso de 24 de Dezembro.

A culpa não é certamente da Europa", gritou o primeiro-ministro irlandês, Brian Cowen, às duas da manhã de sábado passado, depois da última reunião com os seus exaustos colegas europeus na capital dinamarquesa.

Copenhaga prometeu ser uma cimeira muito importante do ponto de vista político para a União Europeia. Para Bruxelas, o que estava em jogo era a liderança internacional numa questão que tende a ser vista como vital para o futuro da humanidade. No coração desta liderança não estavam exércitos nem armamento sofisticado mas sim regras legais vinculativas e a criação de um mercado internacional para as emissões de dióxido de carbono. Se há coisa que Bruxelas sabe fazer é criar as regras legais essenciais para o funcionamento de qualquer mercado.

A cimeira começou num ambiente optimista mas na madrugada de sábado passado, Copenhaga era uma mistura de resignação, desilusão e fúria. A negociação de última hora de Barack Obama com Wen Jiabao, primeiro-ministro da China, e os Presidentes da Índia, Manmohan Singh, do Brasil, Lula da Silva, e da África do Sul, Jacob Zuma, resultou num acordo particularmente cruel para os líderes europeus. Quando o sol nasceu no sábado tornou-se evidente que a ambição de a União Europeia liderar através do exemplo na redução das emissões de dióxido de carbono tinha falhado. Como uma desgraça nunca vem só, em vez da prometida liderança, Bruxelas e as principais cidades europeias tiveram muito pouca influência no resultado final. Em vez de capital da prometida esperança, a capital da Dinamarca transformou-se numa 'Copenada' política.

Que explica este falhanço? Afinal de contas, George W. Bush está de volta ao Texas, qualquer líder político que se preze já prometeu reduzir drasticamente as emissões de dióxido de carbono dos seus países nas próximas décadas e a maioria das opiniões públicas parece aceitar que o aquecimento global é mesmo um problema de destruição maciça.

Duas razões explicam o que aconteceu. A primeira está relacionada com a tensão entre o crescimento económico e os custos da redução das emissões de dióxido de carbono. A principal ambição de qualquer sociedade e governo na América Latina, África ou Ásia é desenvolver rapidamente a sua economia. Esta ambição é perfeitamente natural. E também é natural que estas sociedades e governos vejam no carvão e no petróleo - duas fontes de energia baratas mas altamente poluentes em termos de emissões de dióxido de carbono - instrumentos essenciais para conseguir a curto prazo melhores níveis de vida. A redução das emissões é possível mas, sejamos claros, tem um custo elevado. Para os países mais pobres este custo é incomportável. O que nos leva à segunda razão para o caos de Copenhaga - como é que os enormes custos financeiros da adaptação a um mundo com menos emissões de dióxido de carbono devem ser repartidos entre os mais ricos e os mais pobres? Como se tornou penosamente claro na capital dinamarquesa, não houve acordo em relação a este ponto essencial.

Onde ficamos? Dezassete anos depois, a tentativa de gerir politicamente o problema do aquecimento global através das reduções de emissão de dióxido de carbono é um desastre. Apesar de todas as promessas e retórica política, as emissões aumentaram imenso. Pior é impossível. A evolução geopolítica tornará ainda mais difícil conseguir um consenso político global nesta questão.

Se Bruxelas quiser liderar internacionalmente nas áreas da energia e do ambiente terá de abandonar o projecto quixotesco de um acordo global vinculativo ao nível da redução carbono e passar a ser um exemplo ao nível da inovação tecnológica. Infelizmente, suspeito de que não será este o caminho escolhido.

O choque iraniano
O funeral do grande ayatollah Hossein Ali Montazeri na cidade de Qom, na segunda-feira, mostrou que o Irão será um dos grandes temas da política internacional em 2010. De um lado está um grupo revolucionário determinado a usar a questão nuclear como guarda-chuva nacionalista para camuflar o seu assalto ao poder. Do outro estão estudantes universitários e cada vez mais clérigos e iranianos conservadores indignados com os assassínios, tortura e violações nas prisões do país.

17
anos depois da cimeira do Rio de Janeiro de muitas promessas, as emissões de dióxido de carbono nunca foram tão elevadas como agora. Copenhaga foi um desastre político para a União Europeia. Precisamos de mais inovação e de menos retórica e teatro.

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O processo de aproximação da Sérvia, Montenegro e Macedónia à União Europeia continua

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A oposição dos sindicatos dos professores e dos democratas a um programa de cheque-educação que permite a crianças pobres em Washington, DC, ter acesso a escolas privadas

Miguel Monjardino