Tuesday, May 18, 2010

Telemóvel e Cancro Cerebral


O Expresso online de hoje faz referência a um estudo que será publicado no International Journal of Epidemiology sobre a relação entre o uso de telemóveis e o cancro cerebral. O resultado do estudo adivinha-se facilmente: inconclusivo. Na verdade, todos os estudos sobre este tema revelam-se inconclusivos, talvez porque não há nada a concluir.

Deixo aqui algumas citações do físico Robert Park, que tem tentado mostrar - pelos vistos sem sucesso, pois rios de dinheiro continuam a ser gastos nestes estudos - na sua coluna semanal "What's New" como é impossível que os telemóveis causem cancro.

All known cancer agents act by breaking chemical bonds in DNA, creating mutant strands that may multiply to become cancers. Microwave photons are orders of magnitude short of being able to break chemical bonds. The Federal Communications Commission, the Food and Drug Administration and the American Cancer Society recognize this, but for most Americans the words “quantum mechanics” are simply an announcement that you won't understand what follows.

Fact: cell phone radiation doesn’t cause cancer. Cancer agents break chemical bonds, creating mutant strands of DNA. Microwave photons cannot break chemical bonds. This is not debatable. In 1989, Paul Brodeur, a staff writer for the New Yorker, claimed in a series of sensational articles that electromagnetic fields from power lines cause childhood leukemia. Brodeur, however, understood none of this and when virtually every scientist agreed that it was impossible, Brodeur took their unanimity as proof of a massive cover-up. Other anti-science know-nothings followed Brodeur’s lead, shifting their attack to cell phone radiation. Cell phones have since spread to almost the entire population, but with no corresponding increase in brain cancer. Case closed.

Last week, Senate hearings were held asking whether cell phones cause brain cancer. Brian Walsh, writing for Time, described the outcome as "inconclusive." A collective groan rose from the nation’s physicists. "Not again?" It's been almost 17 years since David Reynard, whose wife died from brain cancer, was on Larry King Live. Reynard was suing the cell phone industry. He said his wife, "held it against her head, and talked on it all the time." That was enough for Larry King. However, all known cancer agent act by breaking chemical bonds, producing mutant strands of DNA. It would be like suing me for hitting someone with a rock thrown across the Potomac River. George Washington is said to have thrown a silver dollar across the Potomac. I can't throw that far, and microwave photons can't break chemical bonds. Not until you get up to the near ultraviolet, about 10,000 times more energetic than microwaves, are photons capable of causing cancer.

I read another article this week in which a physician warns that the risk for each use is minimal, "but over the years repeated exposure could produce genetic damage leading to cancer." I’ve been trying for years to throw a rock across the Potomac River. So far, they don’t go half way, but I’ll keep trying in case it’s cumulative.

Yesterday, the cell-phone controversy was taken to a new and substantially lower level. The Cohort Study on Mobile Communications (COSMOS) was launched in the UK to determine whether microwave radiation from wireless devices can induce cancer. It will track 250,000 users for 30 years to catch any slow growing cancers. Note the built-in job protection. The study will look for neurological diseases such as Parkinson’s and Alzheimer’s as well. Participants aged 18-69 are being recruited in Britain, Finland, the Netherlands, Sweden and Denmark. In Britain, COSMOS is inviting 2.4 million cell phone users to take part, and hoping 100,000 or so will accept. If they do the study really well, it will confirm Albert Einstein’s 1905 explanation of the photoelectric effect, for which he was awarded the 1921 Nobel Prize. Of course, the photoelectric effect is confirmed thousands of times annually by students in elementary physics lab courses. If it is done badly, this tedious and expensive study could perpetuate the public’s unfounded fear of radiation below the ultraviolet threshold. This must be stopped.

Saturday, May 15, 2010

Saldanha Sanches (1944-2010)



Morreu ontem uma figura ímpar do Direito Fiscal em Portugal. Saldanha Sanches, licencidado em Direito na Universidade de Lisboa, foi um dos principais críticos da falta de empenho dos políticos e da sociedade em geral no combate à corrupção. Nem sempre concordei com as suas posições, mas o que interessa verdadeiramente é a memória que deixa. E, para mim, o doutor Saldanha Sanches será sempre recordado como um brilhante jurista com uma grande capacidade de comunicar a complexa linguagem jurídica. Alguém que denunicou, muitas vezes sozinho, o gravíssimo problema da corrupão em Portugal.
Deixo aqui também um post escrito pelo Pedro Lomba no suctionvalcheck
Que descanse em Paz!


A morte de Saldanha Sanches hoje, aos 66 anos, é para mim completamente inesperada. E um absoluto choque. Há muito que não o via, nem sabia que ele andava a fugir do cabrão do cancro, como diz o Miguel Esteves Cardoso. Mas sinto este desaparecimento como pessoal. Tinha um enorme respeito e admiração pelo Prof. Saldanha Sanches. Sempre o vi como um dos académicos mais sérios e estimulantes que conheço. Como é óbvio, discordava dele em muitas coisas, mas curiosamente nestes últimos anos de desvergonha e corrupção mansamente aceite pelas pessoas via-me cada vez mais próximo do que ele escrevia. Era um brilhante académico que ensinava bem que temos mesmo de saber do que falamos. Saldanha Sanches conhecia como poucos o seu ofício (foi talvez o mais importante fiscalista português desde Alberto Xavier). Além disso, era um homem de opiniões e convicções e não as escondia, era um verdadeiro risk-taker, facto que lhe valeu a sua quota de chatices e inimizades. Nunca o vi usar aquele registo tecnocrático e de autoridade com que alguns professores (não apenas de direito) abordam o debate público, esquecendo que no debate público somos apenas aquilo que dizemos, os argumentos que temos ou não temos. Fui monitor do Prof. Saldanha Sanches em 1999 e aprendi muito e guardo muitas saudades desse ano. Já passou algum tempo. Vou sinceramente sentir a falta da sua lucidez e inteligência.


Adenda: Ao reler esta entrevista admirável de Saldanha Sanches lembrei-me duma coisa que talvez se soubesse menos e que está bem patente na estrevista: o seu gosto pela literatura. Lembro-me que no dia do exame de direito fiscal, há dez anos, estivemos a discutir os romances do Hemingway e Saldanha Sanches explicou-me o significado daquela frase famosa: "grace under pressure". Que ele evidentemente tinha.

Tuesday, May 11, 2010

Tolerância de Ponto


A vinda do Papa Bento XVI a Portugal mereceu que o estado garantisse tolerância de ponto aos funcionários públicos. A incoerência das reacções que isso provocou nos vários grupos políticos é curiosa. A direita santinha, sempre tão empenhada a criticar as greves e a falta de produtividade do nosso país, ficou agora bastante silenciosa. Grande parte da esquerda ficou, pelo contrário, escandalizada com a garantia desta tolerância de ponto aos funcionários públicos. Esta estranha inversão de papéis mostra que, na verdade, as convicções religiosas de cada um são suficientemente fortes para afastarem a coerência política.

De qualquer forma, o mais importante é que ontem, no Expresso, Daniel Oliveira (com quem raramente concordo) explicou muito bem porque é que esta tolerância de ponto é inaceitável. Reproduzo o texto integralmente.

Esta semana, ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus vêem as escolas dos seus filhos, públicas e supostamente laicas, encerradas. Razão: os católicos recebem o líder da sua Igreja e por isso todos os restantes são obrigados e ficar com os seus filhos em casa e muitos deles obrigados e pôr um ou dois dias de férias.

Esta semana, os cidadãos portugueses ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus estão impedidos de tratar de qualquer assunto que envolva o Estado porque os católicos (ou alguém por eles) decidiram, ao arrepio da leis da República, parar o país para tratar dos seus assuntos.

Esta semana, os funcionários públicos ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus estão impedidos de ir trabalhar para que os seus colegas católicos tratem de uma celebração religiosa que apenas a eles diz respeito.

Esta semana os contribuintes ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus pagam as despesas salariais de todos funcionários públicos - os católicos e os que não o sendo não podem ir trabalhar - para que a Igreja Católica, uma entre várias, receba o seu Papa.

Diz a Constituição da República Portuguesa: "Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, perseguido, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever por causa das suas convicções ou prática religiosa". Repito: ninguém pode ser privilegiado ou beneficiado. E diz também: "O Estado não discriminará nenhuma igreja ou comunidade religiosa relativamente às outras". Estou seguro que quando mais algum religioso tiver uma qualquer celebração semelhante não terá direito ao mesmo tratamento.

Esta semana a laicidade e neutralidade religiosa do Estado foi suspensa e todos somos católicos à força. Porque quando chega à relação do Estado com a Igreja Católica Apostólica Romana, os cidadãos não católicos são tratados como espectadores e a Constituição do País como adereço.

Friday, May 7, 2010

Guilherme Valente, Eduquês e Plano Inclinado

We can't define anything precisely. If we attempt to, we get into that paralysis of thought that comes to philosophers… one saying to the other: "you don't know what you are talking about!". The second one says: "what do you mean by talking? What do you mean by you? What do you mean by know?" - Richard P. Feynman

A participação de Guilherme Valente, editor da Gradiva, sobre educação no último Plano Inclinado tem dado que falar pela blogosfera, onde se têm espalhado tanto textos de concordância como de discordância com as suas palavras. É com agrado que verifico que o que Guilherme Valente teve para dizer foi levado a sério, independentemente de se concordar ou discordar, pois caso contrário não teriam existido tantas reacções como as que tenho visto.

Só tenho pena de verificar que muita gente continua a recusar-se a contra-argumentar as afirmações de pessoas como Nuno Crato ou Guilherme Valente, dizendo apenas que falam nessa "coisa vaga" que é o "eduquês" sem nunca definirem o que ele é. O eduquês não é nenhuma corrente assumida, mas apenas um nome satírico que Marçal Grilo em tempos colocou a essa forma vaga e estranha de abordar a educação, em que se coloca, no mau sentido, o aluno no centro do ensino, retirando ao professor o seu papel de ensinar e de impor disciplina numa sala de aula, assim como todas as consequências que daí resultam para a aprendizagem dos estudantes.

Desta forma, é evidentemente impossível dar uma definição clara, objectiva e inequívoca da palavra "eduquês". O que não impede, como é óbvio, que já toda a gente que acompanha os debates recentes sobre educação tenha percebido o que é o eduquês. De facto, após mais um programa do Plano Inclinado em que o convidado leva citações escandalosas de pessoas influentes na educação em jornais portugueses, é impossível não se perceber o que é o eduquês. No entanto, há quem finja que não percebe e se tente esconder com o facto de ainda não ter sido definido objectivamente para evitar ir ao confronto de ideias.

Aqui fica, para quem não viu ou quiser rever, o programa completo do último Plano Inclinado, assim como algumas citações de adeptos do "eduquês" que Guilherme Valente levou.




"Castiga-se o «mau comportamento», a falta de respeito, provocações, que afinal são sinais exteriores de algo que vai mal na interioridade emocional e afectiva dos alunos."

"Prémios aos alunos «bem comportados» nas aulas? Como se ser «bem comportado» fosse apenas uma escolha de ordem individual..."

Saturday, May 1, 2010

Paulo Guinote em Plano Inclinado

O professor Paulo Guinote tornou-se conhecido devido ao seu blog dedicado ao tema da educação, A Educação do meu Umbigo, um dos blogs escritos em língua portuguesa mais visitados. Guinote tem-se dedicado a expor vários problemas da educação em Portugal, através de opiniões suas e também divulgando textos alheios, assim como tem participado em vários eventos e conferências dedicados ao tema. No passado sábado, foi o convidado do Plano Inclinado, onde estiveram também Henrique Medina Carreira e Nuno Crato.

Guinote tem sido dos poucos professores do ensino pré-universitário com a coragem e lucidez para denunciar com clareza e objectividade o que está mal na educação. Neste programa em particular, juntamente com Nuno Crato citaram fontes claras do chamado "eduquês" que estão a influenciar as políticas do Ministério da Educação, inclusivé documentos do próprio Ministério. Muitas vezes, pessoas como Crato e Guinote são criticadas por falar muito desse tal "eduquês" sem nunca apontarem claramente, e de forma objectiva, onde essas teorias existem e quem as está a promover. Este programa mostra que tal argumentação não tem fundamento.


Regresso

Por diversas razões, o Artes Scientia Veritas esteve vários meses sem actualizações. Agora, decidimos voltar e fazer um esforço conjunto para manter actualizações regulares. Pedimos desculpa aos nossos leitores por estes meses de intervalo.