Saturday, January 9, 2010

"O Inverno do Regime Iraniano", por Miguel Monjardino

Destaque habitual para o artigo de Miguel Monjardino, publicado na edição do Expresso de 31 de Dezembro.

Os protestos nas principais cidades iranianas mostram que a intimidação, os julgamentos, a violência, a tortura, as violações nas prisões e os assassínios levados a cabo desde as eleições presidenciais de Junho não conseguiram o seu principal objectivo - desmoralizar e calar o crescente número de opositores ao regime de Teerão. Uma coisa é clara neste final de ano. O Irão será um dos grandes temas da política internacional ao longo de 2010. O ano que aí vem promete ser duro para os iranianos mas ninguém sabe para onde é que o país vai em termos internos e externos.

O domingo passado deu boas pistas para compreender a agenda das oposições e do regime. No final do luto pelo imã Hussein, morto pelas tropas do califa Yazid em 680, as pessoas que protestaram e enfrentaram a polícia e as milícias em Teerão não gritaram palavras de ordem contra o Presidente Mahmoud Ahmadinejad mas sim contra o líder supremo Ali Khamenei. As palavras de ordem usadas compararam Khamenei, a mais alta autoridade iraniana, ao odiado califa Yazid. No Irão esta comparação é explosiva do ponto de vista político e religioso. O seu uso mostra que, para uma parte importante da população mais jovem, o que está em causa já não é o resultado das presidenciais de Junho mas sim o regime fundado após a revolução de 1979. A resposta do regime neste dia carregado de simbolismo e emoção religiosa foi a violência, algo a que nem o Xá se atreveu na fase de maior contestação ao seu regime.

2009, o ano do trigésimo aniversário de uma das grandes revoluções do século XX, fica para a história como o ano em que Teerão perdeu a sua legitimidade interna. Estamos a assistir ao Inverno do regime iraniano. Num país em que dois terços da população tem menos de trinta anos, não é uma boa notícia para os governantes ver os estudantes e a população mais jovem a protestar determinadamente contra o regime. E também não é uma boa notícia ver um crescente número de autoridades religiosas associadas ao campo mais conservador em Qom distanciarem-se publicamente de Teerão. O que une os reformistas e os mais conservadores é a certeza de que Ali Khamenei passou a ser um peão dos Guardas Revolucionários e de que o Irão passou a ser uma ditadura.

No final do ano fico com duas dúvidas em relação ao Irão. A primeira é saber se o regime conseguirá sobreviver. A resposta mais provável é que sim, apesar de tudo. Ao matar uma série de manifestantes no domingo passado, o dia mais sagrado para os xiitas, o regime mandou um recado claro aos seus opositores. A facção que está no poder, está disposta a tudo para manter a sua riqueza, privilégios e influência política. O regime sobreviverá desde que o aparelho militar e as principais instituições do país não abandonem Ali Khamenei. Até agora não o fizeram. A chave serão os Guardas Revolucionários, uma força de 130 mil homens que controla importantes sectores do país e o impacto do programa de cortes orçamentais do Presidente Ahmadinejad junto da população mais pobre.

A segunda dúvida está relacionada com a conduta externa de Teerão. O Irão ambiciona ser uma potência regional no Médio Oriente, Golfo Pérsico e Ásia do Sul. Nos últimos anos, americanos e europeus - com o apoio dos países árabes sunitas e de Israel - viram nas sanções um instrumento político para conseguir uma mudança política interna no Irão. Como estamos a ver, a mudança aconteceu mas não na direcção pretendida. Em vez dos reformistas no poder ou próximo dele temos os Guardas Revolucionários. Em vez da prudência e do pragmatismo temos a paranóia e um sentimento de fraqueza e de cerco doméstico e externo em Teerão. O mais natural - mas também o mais perturbante - é que esta situação venha a ter uma influência substancial sobre a evolução do programa nuclear iraniano.

2009
É o ano em que Teerão perdeu a sua legitimidade interna. Estamos a assistir ao Inverno do regime iraniano, que só sobreviverá enquanto mantiver os Guardas Revolucionários. A grande dúvida é como é que o programa nuclear vai evoluir

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China já é número 2
Tudo indica que, no final de 2009, a China já é a segunda maior economia mundial. O crescimento económico chinês esconde três coisas que vale a pena reter. A primeira é um PIB per capita ainda muito baixo - cerca de 3300 dólares em 2008. A segunda é o envelhecimento da sua população. O país tem cerca de 165 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Daqui a 20 anos terá 342 milhões - o equivalente à população dos EUA. A terceira são empréstimos bancários muito altos que ninguém sabe como têm sido usados.

Miguel Monjardino

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