Monday, July 12, 2010

Continuação

Como tem sido difícil haver actualizações regulares deste blog, volto a escrever em http://demon-haunted-world.blogspot.com/, o meu blog anterior.

Passem por lá!

Tuesday, May 18, 2010

Telemóvel e Cancro Cerebral


O Expresso online de hoje faz referência a um estudo que será publicado no International Journal of Epidemiology sobre a relação entre o uso de telemóveis e o cancro cerebral. O resultado do estudo adivinha-se facilmente: inconclusivo. Na verdade, todos os estudos sobre este tema revelam-se inconclusivos, talvez porque não há nada a concluir.

Deixo aqui algumas citações do físico Robert Park, que tem tentado mostrar - pelos vistos sem sucesso, pois rios de dinheiro continuam a ser gastos nestes estudos - na sua coluna semanal "What's New" como é impossível que os telemóveis causem cancro.

All known cancer agents act by breaking chemical bonds in DNA, creating mutant strands that may multiply to become cancers. Microwave photons are orders of magnitude short of being able to break chemical bonds. The Federal Communications Commission, the Food and Drug Administration and the American Cancer Society recognize this, but for most Americans the words “quantum mechanics” are simply an announcement that you won't understand what follows.

Fact: cell phone radiation doesn’t cause cancer. Cancer agents break chemical bonds, creating mutant strands of DNA. Microwave photons cannot break chemical bonds. This is not debatable. In 1989, Paul Brodeur, a staff writer for the New Yorker, claimed in a series of sensational articles that electromagnetic fields from power lines cause childhood leukemia. Brodeur, however, understood none of this and when virtually every scientist agreed that it was impossible, Brodeur took their unanimity as proof of a massive cover-up. Other anti-science know-nothings followed Brodeur’s lead, shifting their attack to cell phone radiation. Cell phones have since spread to almost the entire population, but with no corresponding increase in brain cancer. Case closed.

Last week, Senate hearings were held asking whether cell phones cause brain cancer. Brian Walsh, writing for Time, described the outcome as "inconclusive." A collective groan rose from the nation’s physicists. "Not again?" It's been almost 17 years since David Reynard, whose wife died from brain cancer, was on Larry King Live. Reynard was suing the cell phone industry. He said his wife, "held it against her head, and talked on it all the time." That was enough for Larry King. However, all known cancer agent act by breaking chemical bonds, producing mutant strands of DNA. It would be like suing me for hitting someone with a rock thrown across the Potomac River. George Washington is said to have thrown a silver dollar across the Potomac. I can't throw that far, and microwave photons can't break chemical bonds. Not until you get up to the near ultraviolet, about 10,000 times more energetic than microwaves, are photons capable of causing cancer.

I read another article this week in which a physician warns that the risk for each use is minimal, "but over the years repeated exposure could produce genetic damage leading to cancer." I’ve been trying for years to throw a rock across the Potomac River. So far, they don’t go half way, but I’ll keep trying in case it’s cumulative.

Yesterday, the cell-phone controversy was taken to a new and substantially lower level. The Cohort Study on Mobile Communications (COSMOS) was launched in the UK to determine whether microwave radiation from wireless devices can induce cancer. It will track 250,000 users for 30 years to catch any slow growing cancers. Note the built-in job protection. The study will look for neurological diseases such as Parkinson’s and Alzheimer’s as well. Participants aged 18-69 are being recruited in Britain, Finland, the Netherlands, Sweden and Denmark. In Britain, COSMOS is inviting 2.4 million cell phone users to take part, and hoping 100,000 or so will accept. If they do the study really well, it will confirm Albert Einstein’s 1905 explanation of the photoelectric effect, for which he was awarded the 1921 Nobel Prize. Of course, the photoelectric effect is confirmed thousands of times annually by students in elementary physics lab courses. If it is done badly, this tedious and expensive study could perpetuate the public’s unfounded fear of radiation below the ultraviolet threshold. This must be stopped.

Saturday, May 15, 2010

Saldanha Sanches (1944-2010)



Morreu ontem uma figura ímpar do Direito Fiscal em Portugal. Saldanha Sanches, licencidado em Direito na Universidade de Lisboa, foi um dos principais críticos da falta de empenho dos políticos e da sociedade em geral no combate à corrupção. Nem sempre concordei com as suas posições, mas o que interessa verdadeiramente é a memória que deixa. E, para mim, o doutor Saldanha Sanches será sempre recordado como um brilhante jurista com uma grande capacidade de comunicar a complexa linguagem jurídica. Alguém que denunicou, muitas vezes sozinho, o gravíssimo problema da corrupão em Portugal.
Deixo aqui também um post escrito pelo Pedro Lomba no suctionvalcheck
Que descanse em Paz!


A morte de Saldanha Sanches hoje, aos 66 anos, é para mim completamente inesperada. E um absoluto choque. Há muito que não o via, nem sabia que ele andava a fugir do cabrão do cancro, como diz o Miguel Esteves Cardoso. Mas sinto este desaparecimento como pessoal. Tinha um enorme respeito e admiração pelo Prof. Saldanha Sanches. Sempre o vi como um dos académicos mais sérios e estimulantes que conheço. Como é óbvio, discordava dele em muitas coisas, mas curiosamente nestes últimos anos de desvergonha e corrupção mansamente aceite pelas pessoas via-me cada vez mais próximo do que ele escrevia. Era um brilhante académico que ensinava bem que temos mesmo de saber do que falamos. Saldanha Sanches conhecia como poucos o seu ofício (foi talvez o mais importante fiscalista português desde Alberto Xavier). Além disso, era um homem de opiniões e convicções e não as escondia, era um verdadeiro risk-taker, facto que lhe valeu a sua quota de chatices e inimizades. Nunca o vi usar aquele registo tecnocrático e de autoridade com que alguns professores (não apenas de direito) abordam o debate público, esquecendo que no debate público somos apenas aquilo que dizemos, os argumentos que temos ou não temos. Fui monitor do Prof. Saldanha Sanches em 1999 e aprendi muito e guardo muitas saudades desse ano. Já passou algum tempo. Vou sinceramente sentir a falta da sua lucidez e inteligência.


Adenda: Ao reler esta entrevista admirável de Saldanha Sanches lembrei-me duma coisa que talvez se soubesse menos e que está bem patente na estrevista: o seu gosto pela literatura. Lembro-me que no dia do exame de direito fiscal, há dez anos, estivemos a discutir os romances do Hemingway e Saldanha Sanches explicou-me o significado daquela frase famosa: "grace under pressure". Que ele evidentemente tinha.

Tuesday, May 11, 2010

Tolerância de Ponto


A vinda do Papa Bento XVI a Portugal mereceu que o estado garantisse tolerância de ponto aos funcionários públicos. A incoerência das reacções que isso provocou nos vários grupos políticos é curiosa. A direita santinha, sempre tão empenhada a criticar as greves e a falta de produtividade do nosso país, ficou agora bastante silenciosa. Grande parte da esquerda ficou, pelo contrário, escandalizada com a garantia desta tolerância de ponto aos funcionários públicos. Esta estranha inversão de papéis mostra que, na verdade, as convicções religiosas de cada um são suficientemente fortes para afastarem a coerência política.

De qualquer forma, o mais importante é que ontem, no Expresso, Daniel Oliveira (com quem raramente concordo) explicou muito bem porque é que esta tolerância de ponto é inaceitável. Reproduzo o texto integralmente.

Esta semana, ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus vêem as escolas dos seus filhos, públicas e supostamente laicas, encerradas. Razão: os católicos recebem o líder da sua Igreja e por isso todos os restantes são obrigados e ficar com os seus filhos em casa e muitos deles obrigados e pôr um ou dois dias de férias.

Esta semana, os cidadãos portugueses ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus estão impedidos de tratar de qualquer assunto que envolva o Estado porque os católicos (ou alguém por eles) decidiram, ao arrepio da leis da República, parar o país para tratar dos seus assuntos.

Esta semana, os funcionários públicos ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus estão impedidos de ir trabalhar para que os seus colegas católicos tratem de uma celebração religiosa que apenas a eles diz respeito.

Esta semana os contribuintes ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus pagam as despesas salariais de todos funcionários públicos - os católicos e os que não o sendo não podem ir trabalhar - para que a Igreja Católica, uma entre várias, receba o seu Papa.

Diz a Constituição da República Portuguesa: "Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, perseguido, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever por causa das suas convicções ou prática religiosa". Repito: ninguém pode ser privilegiado ou beneficiado. E diz também: "O Estado não discriminará nenhuma igreja ou comunidade religiosa relativamente às outras". Estou seguro que quando mais algum religioso tiver uma qualquer celebração semelhante não terá direito ao mesmo tratamento.

Esta semana a laicidade e neutralidade religiosa do Estado foi suspensa e todos somos católicos à força. Porque quando chega à relação do Estado com a Igreja Católica Apostólica Romana, os cidadãos não católicos são tratados como espectadores e a Constituição do País como adereço.

Friday, May 7, 2010

Guilherme Valente, Eduquês e Plano Inclinado

We can't define anything precisely. If we attempt to, we get into that paralysis of thought that comes to philosophers… one saying to the other: "you don't know what you are talking about!". The second one says: "what do you mean by talking? What do you mean by you? What do you mean by know?" - Richard P. Feynman

A participação de Guilherme Valente, editor da Gradiva, sobre educação no último Plano Inclinado tem dado que falar pela blogosfera, onde se têm espalhado tanto textos de concordância como de discordância com as suas palavras. É com agrado que verifico que o que Guilherme Valente teve para dizer foi levado a sério, independentemente de se concordar ou discordar, pois caso contrário não teriam existido tantas reacções como as que tenho visto.

Só tenho pena de verificar que muita gente continua a recusar-se a contra-argumentar as afirmações de pessoas como Nuno Crato ou Guilherme Valente, dizendo apenas que falam nessa "coisa vaga" que é o "eduquês" sem nunca definirem o que ele é. O eduquês não é nenhuma corrente assumida, mas apenas um nome satírico que Marçal Grilo em tempos colocou a essa forma vaga e estranha de abordar a educação, em que se coloca, no mau sentido, o aluno no centro do ensino, retirando ao professor o seu papel de ensinar e de impor disciplina numa sala de aula, assim como todas as consequências que daí resultam para a aprendizagem dos estudantes.

Desta forma, é evidentemente impossível dar uma definição clara, objectiva e inequívoca da palavra "eduquês". O que não impede, como é óbvio, que já toda a gente que acompanha os debates recentes sobre educação tenha percebido o que é o eduquês. De facto, após mais um programa do Plano Inclinado em que o convidado leva citações escandalosas de pessoas influentes na educação em jornais portugueses, é impossível não se perceber o que é o eduquês. No entanto, há quem finja que não percebe e se tente esconder com o facto de ainda não ter sido definido objectivamente para evitar ir ao confronto de ideias.

Aqui fica, para quem não viu ou quiser rever, o programa completo do último Plano Inclinado, assim como algumas citações de adeptos do "eduquês" que Guilherme Valente levou.




"Castiga-se o «mau comportamento», a falta de respeito, provocações, que afinal são sinais exteriores de algo que vai mal na interioridade emocional e afectiva dos alunos."

"Prémios aos alunos «bem comportados» nas aulas? Como se ser «bem comportado» fosse apenas uma escolha de ordem individual..."

Saturday, May 1, 2010

Paulo Guinote em Plano Inclinado

O professor Paulo Guinote tornou-se conhecido devido ao seu blog dedicado ao tema da educação, A Educação do meu Umbigo, um dos blogs escritos em língua portuguesa mais visitados. Guinote tem-se dedicado a expor vários problemas da educação em Portugal, através de opiniões suas e também divulgando textos alheios, assim como tem participado em vários eventos e conferências dedicados ao tema. No passado sábado, foi o convidado do Plano Inclinado, onde estiveram também Henrique Medina Carreira e Nuno Crato.

Guinote tem sido dos poucos professores do ensino pré-universitário com a coragem e lucidez para denunciar com clareza e objectividade o que está mal na educação. Neste programa em particular, juntamente com Nuno Crato citaram fontes claras do chamado "eduquês" que estão a influenciar as políticas do Ministério da Educação, inclusivé documentos do próprio Ministério. Muitas vezes, pessoas como Crato e Guinote são criticadas por falar muito desse tal "eduquês" sem nunca apontarem claramente, e de forma objectiva, onde essas teorias existem e quem as está a promover. Este programa mostra que tal argumentação não tem fundamento.


Regresso

Por diversas razões, o Artes Scientia Veritas esteve vários meses sem actualizações. Agora, decidimos voltar e fazer um esforço conjunto para manter actualizações regulares. Pedimos desculpa aos nossos leitores por estes meses de intervalo.

Tuesday, March 16, 2010

"Ruptura com o 'eduquês'", por Henrique Raposo

No Expresso de 6 de Março, a crónica de Henrique Raposo foi dedicada à educação. Aqui fica.

Paulo Rangel tem razão num ponto: a educação precisa de uma ruptura. Aliás, a polémica suscitada pelas ideias 'pedagógicas' de Rangel tem sido a parte mais interessante da campanha interna do PSD. Rangel, ao contrário de Passos Coelho, não tem medo de pisar o risco desenhado pela esquerda; não tem receio de romper o cerco do politicamente correcto. Por isso, este candidato a líder do PSD tem enfrentado, de forma desempoeirada, os dogmas do generalíssimo 'eduquês'. No fundo, Rangel tem defendido que o aluno não é o centro da escola. O centro da escola é, isso sim, o conhecimento que o aluno deve assimilar. Com uma previsibilidade pavloviana, os fiscais do antifascismo já soltaram os cães. Para estes profissionais da indignação, Rangel não passa de um defensor malévolo do 'antigamente'. O próprio Passos Coelho, sempre muito sensível às alergias da esquerda, também fez soar este alarme antifascista contra a 'escola' de Paulo Rangel.

Em Março de 2008, numa das primeiras crónicas aqui do Expresso, afirmei que a escola pública não ensina as crianças a desenvolver as capacidades básicas: ler e escrever. Isto porque o 'menino' é rei e senhor. O professor não pode repreender o 'menino', porque isso é fascismo travestido. E esta hiperprotecção do 'menino' acaba por ter um efeito ridículo, quase cómico: muitos alunos acabam o curso superior sem saberem escrever em condições. Ora, ainda hoje recebo e-mails de pessoas que me felicitam por "ter a coragem de dizer isto". Ao mesmo tempo, esta boa gente (quase sempre professores) diz-me que tem medo de falar deste assunto em público. Ou seja, em privado, e só em privado, as pessoas já dizem que os miúdos não aprendem nada na escola. No recato do seu e-mail, e só nesse recato, os portugueses consideram que 'ir à escola' é apenas um hábito social, que não contribui para o desenvolvimento de capacidades e de conhecimentos (são os pais, em casa, que ensinam as crianças). Mas, em público, toda a gente tem ainda medo de criticar esta farsa. Eu percebo: se afrontarem o 'eduquês', as pessoas são, de imediato, rotuladas de 'salazaristas'. Portanto, neste ambiente malsão, Rangel fez a ruptura necessária, porque trouxe para a superfície um debate subterrâneo.

Os pedagogos podem não apreciar as ideias de Rangel, mas o português normalíssimo sabe que este jovem político tem razão. O português ali do 3º direito vê, todos os dias, a escola primária a falhar na tarefa de ensinar o seu filho a escrever e a fazer cálculos matemáticos. O português do 5º esquerdo vê, todas as semanas, a escola secundária a não preparar a sua filha para a faculdade. Aliás, todos os portugueses vêem o ensino secundário a transformar-se, sob a complacência do poder político, numa linha de montagem de preguiça e de desonestidade intelectual. Há dias, descobri que os miúdos completam os trabalhos de casa com um mero copy/paste da Internet. E, pior ainda, descobri que os professores, quando recebem estes copy/paste, não podem chumbar os alunos prevaricadores. Perante esta farsa, só podemos dizer que Rangel tem toda a razão. A escola pública não está a formar cidadãos com capacidade para subir na vida. A escola pública está a formar digitadores de SMS destinados a permanecer na prisão do seu 'contexto sociofamiliar' (para usar uma expressão muito querida do 'eduquês').

Henrique Raposo

Friday, March 5, 2010

Plano Inclinado

Pedimos desculpa pela falta de actualização recente, uma falha que tentaremos começar a colmatar brevemente. Entretanto, aqui fica o Plano Inclinado da semana passada.


Tuesday, February 23, 2010

"Sair do Pântano"

Recomendo a leitura deste texto de José Pedro Lopes Nunes sobre os exames nacionais do ensino secundário. Destaco a seguinte passagem:

Defendo que os exames nacionais no ensino secundário deixem de ser realizados apenas num número muito limitado de vezes, e passem a ser realizados todos os anos, para todos os alunos. Na verdade, será de ponderar realizar exames nacionais não uma, mas duas vezes por ano (em Novembro e em Junho).

Fazer depender todo o resultado dos estudos correspondentes a um prolongado período de ensino de uma única avaliação pode ser causa de injustiças. De igual forma, terá que se aceitar que é muito pesada a carga psicológica imposta a uma avaliação desse tipo que tem lugar com intervalos de anos.

A solução não é impor o facilitismo, nem permitir a cada escola que favoreça os alunos aí inscritos através de exames “simpáticos” – exames que tenham alegadamente em conta o ambiente sócio-económico, as dificuldades específicas, e mais mil e uma desculpas. Pelo contrário, é necessário tirar peso psicológico aos exames nacionais, transformando-os numa mera rotina.
De facto, muitas vezes os alunos que são contra os exames nacionais utilizam como argumento o facto de não ser aceitável que grande parte da nota de final do secundário (e também de candidatura à Universidade) esteja dependente de umas poucas horas em que se realizam os exames. Concordo em absoluto, e por isso mesmo é que defendo mais exames nacionais. Desta forma, grande parte da nota não será decidida ali numas horas no final do secundário, mas estará repartida pelos 3 anos de ensino, sendo decidida através de exames justos que colocam todos os alunos em pé de igualdade.

Para além disso, a existência mais regular de exames teria também outra vantagem: a preparação dos alunos para a Universidade. Não me parece haver dúvidas de que a razão pela qual muitos estudantes se espalham quando chegam à Universidade tem que ver com a falta de ritmo e de organização que não lhes é incutida no ensino secundário. Na verdade, mais exigência e mais exames no secundário poderão conduzir, consequentemente, a melhores performances dos alunos no ensino superior.

Saturday, February 20, 2010

"iPad, iPod, iPud", por Nuno Crato

Artigo de Nuno Crato no blogue do Expresso Passeio Aleatório, também publicado na edição de imprensa de 30 de Janeiro, a propósito das novas tecnologias e da sua aplicação no ensino.

Sou um 'teckie' - um apaixonado pela tecnologia. Sempre fui. Aderi ao correio electrónico em 1988 e fiz a minha primeira página Web em 1992. Tenho um iPhone. E só não sei se vou comprar um iPad porque tenho já um Kindle. Fico contente sempre que a tecnologia me facilita a vida e tento que as minhas aulas lucrem com a introdução de novas técnicas.

Não sou o único, claro. O meu colega Harm-Jan Steenhuis, um holandês que agora lecciona numa universidade do estado de Washington, é um dos muitos que gostam também de experimentar as novas tecnologias. Na passada semana, ele alcançou uma súbita e inesperada notoriedade. As suas experiências educativas apareceram difundidas por várias agências de noticiário científico e académico. A imprensa especializada reproduziu-as e Harm-Jan começou a receber telefonemas de jornalistas. Tudo isso porque escreveu sobre as suas iniciativas recentes de introdução da tecnologia no ensino.

O artigo que publicou relata uma experiência de introdução de testes electrónicos e apareceu no "International Journal of Operations Management Education" (3-2, pp. 119-148). Harm-Jan e os seus colegas resolveram fazer semanalmente online curtos testes (quizzes), para revisão frequente da matéria e avaliação dos alunos. Fazer testes curtos e frequentes é uma técnica antiga - pretende-se que os estudantes vão acompanhando a matéria e percebam onde estão a falhar. A inovação consiste em automatizar esses testes, de forma a que os alunos possam obter imediatamente a correcção das respostas e a sua classificação.

Pouco tempo antes, Harm-Jan tinha experimentado outra técnica, a dos clickers, que são pequenos aparelhos individuais onde cada aluno aperta um botão para responder a uma pergunta. São usados em alguns grandes anfiteatros de universidades dos Estados Unidos. A meio da aula, o professor faz uma pergunta. Cada aluno aperta um botão do seu aparelho individual para responder. As respostas são transmitidas electricamente ou por via rádio a um computador que as interpreta. Instantaneamente, o professor fica a saber quais os alunos que responderam correctamente à pergunta e os que se enganaram. Pode usar os resultados para os classificar ou para perceber se está a ser seguido e onde estão as dificuldades dos alunos.

Harm-Jan Steenhuis e os seus colegas tiveram um grande sucesso com estas técnicas. Os estudantes aderiram, e parece que estavam mais activos nas aulas. No entanto, quando resolveram avaliar os resultados no que realmente interessa, que é a aprendizagem, verificaram que os alunos não tinham aprendido mais. Ficaram surpresos, pois conheciam muitos artigos publicados em revistas de educação que apregoavam bons resultados com as novas tecnologias - falavam da promoção de uma "aprendizagem activa", de um "maior envolvimento dos estudantes no processo de aprendizagem". Foram ver esses artigos e ficaram mais surpreendidos ainda. Os tais "bons resultados" referiam-se apenas ao entusiasmo dos alunos. Não a uma melhoria da sua aprendizagem.

Harm-Jan disse-me, cauteloso: "Nem me passa pela cabeça criticar as novas tecnologias". Respondi-lhe que não precisava de mo dizer. Sou bem capaz de ir comprar um iPad, um iPude e instrumentos de todas as letras do alfabeto, mas não vou pretender que os meus alunos vão aprender mais só por causa disso.

Nuno Crato

Tuesday, February 16, 2010

Plano Inclinado

Plano Inclinado do passado Sábado, com Henrique Medina Carreira, Nuno Crato e João Salgueiro, sobre Economia e Finanças Nacionais e Internacionais.


Monday, February 15, 2010

O Futuro Inventa-se

António Câmara completou a sua licenciatura em Engenharia Civil no Instituto Superior Técnico, continuando estudos nos Estados Unidos, primeiro em Virginia e depois no MIT. Actualmente, é professor na Universidade Nova de Lisboa, e propõe, no seu livro O Futuro Inventa-se, uma nova universidade.

Para o autor, a Universidade deve repensar o seu papel, tornando a sua relação com a sociedade muito mais activa. Deve dedicar-se a formar jovens inovadores e não apenas a ensiná-los como passar nos exames, deve incentivar mais a investigação científica, deve promover as actividades extra-curriculares junto dos alunos através de projectos entusiasmantes, deve ser um espaço agradável que procure atrair visitantes, entre outras funções que permitiriam melhorar a educação e a investigação e, a mais longo prazo, a economia e a sociedade.

Saturday, February 13, 2010

A liberdade está em causa?

Depois do recente caso com Mário Crespo e da divulgação das escutas do caso Face Oculta por parte do Sol, é legítimo perguntarmo-nos se a liberdade de expressão e de imprensa está em causa. As respostas a esta questão têm inundado a blogosfera e os jornais, oscilando entre dois extremos radicais: por um lado, há quem continue a defender Sócrates para lá do que é sério fazer-se; por outro, também existem os que já anunciaram a morte da liberdade de expressão em Portugal.

Neste contexto, penso que são sensatas as seguintes palavras:

O Governo costuma dizer que nós somos um país onde há grande liberdade. É verdade: há uma grande liberdade de expressão. É por isso que este acto não devia ter acontecido. Este acto veio manchar o nosso regime democrático. Este episódio é muito negativo e lamento que o senhor primeiro-ministro se escude permanentemente no silêncio e na ausência de resposta, porque o silêncio não ajuda o primeiro-ministro a limpar uma nódoa que ficará e que o perseguirá durante muito tempo. É que, afinal de contas, o Governo actuou com o objectivo de eliminar uma voz incómoda.
Estas palavras são de José Sócrates em 2004, quando o Governo de Santana Lopes fez pressão para a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI. E este antigo Sócrates, inocente e bonzinho, tem razão. A liberdade de expressão não está neste momento em causa, e expressões como "atentado contra o estado de direito", como Paulo Rangel utilizou no Parlamento Europeu, são exageradas. Contudo, isto não significa que se deve atenuar a gravidade da situação. Afinal, Sócrates e o seu Governo já fizeram muito pior que Santana Lopes, com os escândalos que envolvem o primeiro-ministro a sucederem-se uns aos outros. Sócrates é, neste momento, um líder fragilizado e sem credibilidade. Com ou sem PS no Governo, não creio que a sua liderança se prolongue por muito mais tempo.