Artigo de Miguel Monjardino, publicado na edição do Expresso de 6 de Fevereiro, extraordinariamente pertinente no que diz respeito ao nosso presente e futuro.
A inovação tecnológica e o empreendedorismo sempre foram coisas importantes. Mas agora que estamos claramente a entrar numa época em que o conhecimento é cada vez mais relevante, a inovação tecnológica e o empreendedorismo serão cruciais em termos económicos e políticos. Os países que nas próximas décadas conseguirem atrair e manter as empresas privadas mais capazes de inovar, desenvolver e vender produtos nos mercados mundiais serão mais ricos e influentes em termos internacionais.
A Apple, liderada por Steve Jobs, é hoje considerada uma das empresas mais inovadoras no mundo. O "The Economist" da semana passada chamava a atenção para o facto de a empresa ter conseguido transformar nas últimas décadas as indústrias dos computadores, da música e das telecomunicações. O novo iPad promete continuar a transformar os computadores e as telecomunicações e a reinventar a imprensa.
Um olhar para as empresas mais inovadoras do ponto de vista tecnológico e para a geografia do empreendedorismo mostra que os EUA continuam a ser uma espécie de país-farol nestas duas áreas. Quem é que vem a seguir? No meio de alguns candidatos, vale a pena olhar para Israel.
À primeira vista, a sugestão pode parecer absurda. Afinal de contas, o Médio Oriente não é uma região estável do ponto de vista geopolítico nem integrada economicamente, a lista de candidatos interessados em destruir Israel é longa e o país só tem sete milhões de pessoas. Mas como Dan Senor e Saul Sanger mostram em "Start-Up Nation. The Story of Israel's Economic Miracle" (Nova Iorque: Twelve, 2009), as aparências enganam.
Sessenta e três empresas israelitas estão cotadas no Nasdaq em Nova Iorque. Se juntarmos todas as empresas europeias cotadas na mesma bolsa, ficamos muito longe deste número. Israel atrai tanto capital de risco para investimento em empresas tecnológicas como a França e a Alemanha juntas. Nenhum país do mundo dedica uma percentagem tão elevada do seu produto nacional bruto à investigação e desenvolvimento civil como Israel.
De onde é que vem toda esta inovação e capacidade israelita para criar e vender produtos nos mercados internacionais? Senor e Sanger sugerem três respostas. A primeira é a existência de excelentes universidades, fundos de capital de risco e um elevado número de engenheiros no país. A segunda, é um ambiente social que privilegia uma cultura igualitária, estimulante, individualista e tolerante em relação ao falhanço. A terceira, é a importância de um longo serviço militar obrigatório numas forças armadas extremamente competitivas que fazem um uso intensivo da inovação tecnológica e da liderança.
E nós, por cá, como é que estamos? "O Futuro Inventa-se" (Objectiva: 2009), de António Câmara, professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia na Universidade Nova e presidente da YDreams, é o melhor ponto de partida para esta importante discussão sobre a nossa capacidade para usar o conhecimento na criação de novas empresas e produtos.
António Câmara argumenta que um dos nossos grandes problemas nestas duas áreas é que "a universidade portuguesa forma estudantes para serem empregados e não 'exploradores': líderes políticos, artistas, cientistas e empreendedores". A título de comparação, veja-se, por exemplo, o caso da Universidade do Michigan (EUA), onde 10% dos caloiros - seiscentos alunos - criaram um negócio no ensino secundário.
A aversão ao risco e ao falhanço da nossa sociedade, a falta de fundos de capital nas universidades e de incentivos académicos para o empreendedorismo dos professores são outros pontos analisados por António Câmara.
"O Futuro Inventa-se" é um livro indispensável. Não precisamos de fazer melhor. Precisamos de fazer muito melhor. Para isso é necessário uma nova geração de exploradores. Só assim teremos um futuro melhor.
Empreendedorismo
35 anos depois da sua fundação, a Apple é um exemplo da inovação tecnológica e do empreendedorismo. Israel é um país extremamente interessante nestas duas áreas. Portugal precisa de uma nova geração de exploradores.
Barómetro
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Miguel Monjardino