Henrique Medina Carreira costuma prestar um grande serviço ao país sempre que fala na televisão, alertando-nos para os verdadeiros problemas que enfrentamos (e que certamente vamos enfrentar mais arduamente no futuro), mas que os políticos não gostam de abordar. É certo que há mais comentadores que o fazem, mas Medina Carreira fá-lo num estilo e num tom muito próprio, sem papas na língua, que não deixa ninguém indiferente. Esse alerta é necessário na sociedade portuguesa, e por isso tenho-lhe feito muitos elogios.
Contudo, Medina Carreira foi para mim uma verdadeira desilusão no Plano Inclinado desta semana. Em geral, tem sido muito criticado por estar constantemente a dizer mal sem apresentar soluções, e foi isso que decidiu fazer neste terceiro programa, que tinha o objectivo de passar do diagnóstico para a receita. E, ao tentar fazê-lo, Medina Carreira não foi minimamente convincente, insistindo em soluções que não me parecem aplicáveis na realidade, e descartando qualquer caminho que João Duque ou Nuno Crato apontassem como adequado para melhorar a situação do país.
Uma das suas soluções, que já era aliás conhecida através de várias entrevistas, passa por um presidencialismo temporário. No entanto, nunca explicou muito bem de que forma é que isso garantia com certeza uma melhoria na nossa situação. E se o presidente eleito fosse incompetente? Não ficariamos pior do que agora, ao concentrar mais poder nas suas mãos? De qualquer forma, o que me parece mais relevante é o seguinte: quando olhamos para o estrangeiro, apercebemo-nos de que o sistema político não é particularmente determinante para as condições do país, e o contraste entre o presidencialismo dos EUA e o parlamentarismo do Reino Unido é um bom exemplo. Eu não tenho preferência por um sistema ou por outro, mas duvido que esta solução seja particularmente relevante.
Depois, Medina Carreira está tão obcecado com o presente que parece ignorar a importância das medidas de longo prazo. Nuno Crato falou na importância da educação para as gerações futuras, e João Duque do desenvolvimento das exportações de vinho, em quantidade e qualidade, como exemplo do tipo de inovação que precisamos. Em relação à educação, Medina Carreira crê que são medidas para muito longo prazo, e prefere mexer na justiça. Neste aspecto, sendo ele um pessimista, acabou por evidenciar o que eu considero um grande optimismo, dizendo que uma pessoa séria em três anos punha a justiça na ordem, algo que não me parece de todo possível independente da seriedade de quem esteja à frente do país. Quanto à questão do vinho, disse ser apenas um caso pontual, e que não é assim que o país cresce. Embora tenha em certo sentido razão (parece-me evidente que as exportações de vinho são insuficientes para cobrir os nossos gastos...), a verdade é que o exemplo do vinho é excelente como fonte de inspiração para outras áreas que também podemos desenvolver. Não digo que não sejam precisas reformas profundas - é indispensável mexer na educação, na justiça, e na excessiva burocracia -, o que digo é que estes exemplos pontuais também são importantes, pois se aos poucos exemplos que temos de excelência se forem somando outros que apareçam, e que inspirem ainda outros a aparecer, esse é um contributo que não é de todo irrelevante.
Depois desta nota desiludida com um comentador que realmente admiro, aqui deixo o referido programa. No próximo sábado será debatida a educação, com Maria do Carmo Vieira no lugar de João Duque.
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