Destaque para a crónica de Henrique Raposo desta semana, publicada na edição de imprensa do Expresso de dia 21 de Novembro de 2009.
Os mais velhos dizem-me que Mário Soares é o pai da democracia, e que eu devo muito ao nosso redondinho founding father. Muito bem. Leio uns livros e percebo que Soares travou a ditadura comunista em 1975. Não há dúvida de que o dr. Soares foi fundamental na formação da democracia. Mas um passado glorioso não iliba um presente medíocre. E, lamento informar, os últimos anos do dr. Soares têm sido confrangedores. Basta puxar pela memória. Durante a campanha presidencial de 2006, Soares fez um lendário show de snobismo social contra Cavaco; em 2005, Soares violou a lei eleitoral ao apelar a uma maioria absoluta no próprio dia das eleições. Este não é um registo que dignifique um pai-fundador.
A pior fase deste soarismo crepuscular apareceu nas últimas semanas. Perante a gravidade do 'Face Oculta', Soares tem protegido Sócrates, não percebendo que, com isso, fragiliza ainda mais o regime. Ou seja, Soares não tem mostrado a dignidade imperial que se exige a um pai-fundador. Isso ficou evidente no seu último artigo do "Diário de Notícias". Nessa prosa belicista, Soares atacou a justiça, e deu caução aos termos taberneiros de Vieira da Silva. É muito triste ver o nosso founding father nestes preparos. E não me venham com a história de que eu devo respeito ao dr. Soares, e que, por isso, não o posso criticar. Poupem-me a esse chauvinismo socialista. Soares não está acima da crítica. Ele, mais do que ninguém, deveria saber isso. Em democracia, nem o pai escapa à crítica.
Perante o actual cenário, Soares - como salientou Medeiros Ferreira - só tinha duas opções: ou estava calado ou indicava um caminho institucional para a regeneração do regime. Soares não fez nem uma coisa nem outra, acabando por enveredar pelo pior dos caminhos: assumiu posições tribais, como se fosse um mero apparatchik socialista. É uma pena. Soares tem poder para ajudar na refundação do regime. Soares, por exemplo, devia apoiar a 'lei Marques Mendes' (todos os partidos deveriam banir os seus membros seriamente envolvidos em casos de corrupção). Soares podia, e devia, apoiar a proposta de lei do PSD e do CDS que defende o seguinte: os governos não podem continuar a nomear os directores das agências de regulação; essas nomeações devem ser feitas pelo Presidente da República. Esta proposta de lei é fundamental, porque precisamos de acabar com a promiscuidade entre os governos e as entidades de regulação. Ainda na semana passada, Sócrates colocou um ex-secretário de estado no comando da Anacom. E isto, meu caro Mário Soares, é uma vergonha institucional. Não sabemos se Sócrates tem, ou não, um carácter vergonhoso. Mas, caro Mário, já sabemos uma coisa: Sócrates trata as instituições de forma vergonhosa.
Founding fathers
A tradução de "The Federalist Papers" - livro central no pensamento político americano - foi um dos acontecimentos culturais dos últimos anos em Portugal. Esta excelente tradução - "O Federalista" (Edições Colibri) - é da responsabilidade de Viriato Soromenho Marques, um dos intelectuais portugueses mais sofisticados. Para refundar aquilo que fundou, o dr. Soares deveria ler Hamilton e Madison cinco vezes por dia.
Henrique Raposo
E o mais engraçado é que se fala do passado com se tudo nas mãos do soares tivessem sido rosas, e a maneira absurda como as colónias forma largadas?? e a maneira absurda como o dinheiro europeu foi gasto?? (muito daquele que também era para os retornados, transformado em empréstimos absurdos) e gaba-se ele de ter tirado Portugal da crise dos anos 80, tirou sim, a custa das medidas do nosso actual presidente da republica, o que vale é que na hora de votar neste mesmo as pessoas não se esqueceram totalmente do passado, ao contrario do que costuma ser habito.
ReplyDeletePeço desculpa pelas falcatruas que não referi dessa pessoa que tratam por dr.