Thursday, December 3, 2009

Aquecimento Global

Existe actualmente uma confusão enorme em torno do aquecimento global, devido a vários factores: diversos exageros de parte a parte, razões políticas que determinam as opiniões de algumas pessoas, ou ainda os artigos pseudo-científicos que de vez em quando vão surgindo.

A referida questão das razões políticas é grave, mas de facto tem acontecido. É perfeitamente claro que, de uma forma geral, tanto os que defendem o aquecimento global com unhas e dentes como os que o recusam, tendem a identificar-se com determinadas vertentes políticas (como é evidente, isto não se verifica para todas as pessoas, tratando-se apenas de uma tendência). Isto deve alertar-nos para a possibilidade da opinião de algumas destas pessoas sobre as alterações climáticas não se suportar em razões de carácter científico, mas sim de carácter político. Este é o caminho errado se queremos aumentar o nosso conhecimento sobre o que se passa com o clima. A boa ciência requer sempre que se coloquem os desejos emocionais de parte.

Quanto a artigos pseudo-científicos sobre este tema, exemplos deste tipo são análises que recusam o aquecimento global por causa de um mês em particular ter sido especialmente frio. Como é evidente, o aquecimento global nunca poderia ocorrer sem oscilações, daí que a presença de meses que batem recordes de temperatura mínima não contradigam, de todo, o aquecimento global.

Mas este é apenas um exemplo. Durante as últimas semanas, no De Rerum Natura, o bioquímico David Marçal tem destacado alguns artigos seus para o Inimigo Público sobre as alterações climáticas, comparando-os com artigos supostamente sérios da imprensa generalista. É chocante, mas a diferença, de facto, não é muita. Deixo aqui apenas um exemplo, mas mais podem ser encontrados no respectivo blog.

Entretanto, o mesmo David Marçal escreveu um texto em que explica por que razões defende a tese do aquecimento global provocado por factores antropogénicos. Tal texto é de uma lucidez e racionalidade raras em artigos sobre o referido tema. Destaco as seguintes passagens:

Existe consenso na comunidade científica sobre esta questão. Segundo um estudo publicado pela historiadora de ciência Naomi Oreskes na Science em 2004, dos mais de 900 artigos publicados entre 1993 e 2003 sobre alterações climáticas nenhum refutava a ideia de que a Terra está a aquecer por causa da actividade humana. (...) A haver contestação ao aquecimento global por causas humanas, ele não é publicado em revistas científicas.

A serem falsas as conclusões de que o planeta está a aquecer por causa das emissões de dióxido de carbono com origem na actividade humana teria que haver uma conspiração com dimensões mirabolantes. Envolveria uma miríade de institutos de investigação e organizações meteorológicas, editores de revistas científicas, assim como um grande número de investigadores (...). Uma tal convergência, mesmo contando com um efeito rebanho que faria dos cientistas que estudam o clima uma multidão de adolescentes a seguir uma banda de heavy metal, parece-me improvável.

Essa conspiração extraordinária envolveria cientistas que nunca se conheceram, de várias gerações.

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